Tenho compreendido que, quando a sensibilidade se deixa tomar por emoções, impressões, abalos, geralmente as manifestações são circunstanciais e as iniciativas enganosas. Já a verdadeira sensibilidade, que se equilibra amparada nos conhecimentos, gera uma compreensão ampla e generosa da realidade. É quando a consciência nos apresenta o bem útil.
Lendo uma pesquisa sobre as diferentes causas do morador de rua viver nessa condição, algumas respostas movimentaram minha sensibilidade, ampliando meu sentir e pensar: um jovem, em torno dos 19 anos, cego dos dois olhos, explicou que ainda criança seu pai bêbado cegou-o com pedradas e, abandonado na rua, foi criado em um albergue, mas aos 18 anos foi obrigado a sair e morar na rua; nessa linha de respostas, ouvi algumas outras que me fizeram pensar sobre situações que revelam o quanto é difícil para parte dessas pessoas resgatarem alguma dignidade. A sensibilidade combinada ao conhecimento fez brotar em mim o sentimento de compaixão.
Certa vez, em uma conversa afetuosa com um estudante de Logosofia, refletimos que a compaixão é um sentimento piedoso para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de diminuí-la e de ser capaz de mover minha inteligência, identificando atuações para o bem desse semelhante. Essa conversa promoveu movimentos em meu mundo interno e despertou em mim um enorme amor à humanidade. Senti que minha vida é parte e extensão da vida do meu semelhante e que estender o bem material é muito importante para um grande número de pessoas, mas o bem duradouro, aquele que não morre em mim, que atende, em uma corrente de gratidão, a minha consciência moral, que capta e percebe as verdades, esse deve ser oferecido a todos.
Formoso perceber, com o passar do tempo, como os juízos mais equilibrados fazem surgir sentimentos verdadeiros, quase divinos, irmanados na trilogia: sensibilidade–razão–consciência. Formoso descobrir, com o autoconhecimento, que a sensibilidade usada pelas paixões facilmente se perverte em violência. E o que seria da sensibilidade sem a luz da inteligência?
Formoso também recordar antigos temores que se transformaram em uma sensível fé em mim mesma. Formoso sentir a inteligência e enxergar no outro aquilo que nos falta. Observar que já não nos aborrecemos como antes, uma vez que o pensar e sentir se combinam em muitas situações, imunizando-nos contra incômodos banais. E, ainda, que dar razão ao outro já não é um problema como antes.
Formoso sentir as palpitações espirituais da sensibilidade e da razão, harmonizando-se na descoberta de uma consciência que indica em que mundo eu estou.