A oportunidade de trabalhar com esse tema do grande círculo ético foi uma coisa que me gerou muita alegria, pois, para mim, foi um convite especial para revisitar meu conceito de ética e, também, para compreender como a ética relaciona-se com a paz.  

Durante o meu estudo, um ponto em que escolhi aprofundar-me foi a diferença que existe entre a ética comum e a ética logosófica. O que percebi, nesse aprofundamento, é que a ética comum está relacionada ao que vem de fora, como se alguém tivesse decidido para nós o que é ético e o que é antiético. Já a ética logosófica, por outro lado, parte de dentro, porque ela é a arte de criar a si mesmo.  

A imagem que formei da ética logosófica é a de que ela representa a possibilidade de criar um novo ser, a partir dos nossos próprios princípios éticos. Então, a conclusão a que cheguei é que a ética relacionada à paz não é qualquer ética; não é a ética no sentido comum. Trata-se de uma ética superior, que parte de dentro e gera o estímulo de querer formar um novo ser e construir uma nova humanidade.  

Um outro aspecto que surgiu com esse estudo foi uma inquietude bem interessante. Várias vezes eu me fiz a seguinte pergunta: “por que o autor da Logosofia fala em círculo ético?”. Eu não conseguia encontrar uma resposta para essa dúvida, até entrar em contato com um ensinamento (do Curso de Iniciação Logosófica – CIL, §156) que me ajudou a entender melhor a imagem. Esse ensinamento diz:

a ética não teria finalidade ou, melhor ainda, não cumpriria seu verdadeiro objetivo social, se não contivesse os elementos básicos que a tornam possível, a saber: elevação de propósitos, tolerância, paciência, obsequiosidade sincera, naturalidade no trato, afabilidade, prudência e tato nos juízos que se emitem sobre terceiros. Arrematando este enunciado ético, diremos também que, acima de tudo, haverá de reinar a cortesia como expressão de afeto e de respeito e, do mesmo modo, o pensamento conciliador, que consolida a mútua consideração e entendimento” (Curso de Iniciação Logosófica – §156).  

Quando li esse trecho, as imagens foram somando-se, porque entendi que a ética associada à paz também não é apenas a ética logosófica, mas o círculo da ética logosófica. Isso porque, se a ética não for circundada por elementos básicos como a tolerância, a paciência, a afabilidade, a prudência, entre outros), ela não cumprirá o objetivo de promover o pensamento de conciliação e entendimento.  

Já vivi várias experiências em que achei que tinha agido com ética, mas, depois, acabei comprovando que aquela ética, na verdade, era aparente, pois não havia sido acompanhada de nenhuma das virtudes elencadas por esse ensinamento do Curso de Iniciação Logosófica.  

O exemplo mais recente que vivi disso foi quando eu decidi dar um conselho a uma pessoa, mas essa pessoa acabou não reagindo bem à minha colocação.  

Lembro que, na época, fiquei muito indignada e perguntei-me: “como essa pessoa não vê que o que estou fazendo é um bem?”. Coloquei-me na posição de vítima por algum tempo, mas houve um momento em que a ficha caiu e percebi que o motivo de a pessoa não ter recebido o meu conselho de forma positiva foi justamente o fato de eu não ter utilizado esse círculo de elementos básicos para a convivência humana. Essas experiências são interessantes, porque, muitas vezes, achamos que nossa conduta foi ética, mas, quando não fazemos uso desses propósitos elevados, isso é um indício de que estamos distantes dessa ética superior.  

Então, o que mais me marcou nesse estudo foi entender qual é o meu papel na busca pela paz. Para mim, meu papel é fazer uma investigação sincera sobre quais são os elementos que me faltam para que eu possa conquistar gradualmente cada um desses fragmentos e ampliar o alcance desse círculo ético.