Desde que me tornei avó, senti-me inundada por este novo e intenso sentimento de amor, direcionando minha atenção aos períodos em que estava próxima a meu neto e aos em que estava distante.

Moramos em estados diferentes, assim fui percebendo uma inclinação do ânimo a viver o encontro seguinte. Determinada a vislumbrar os matizes do panorama desenhados na minha psicologia, definindo-o como uma inquietante sensação de expectativa, observei que meus pensamentos e ações se inclinavam em priorizar tudo o que se referisse a quando eu estivesse novamente com ele.

Identificada a causa da possível ansiedade que a contagem dos dias ocasionava, decidi realizar um esforço maior para retomar as atividades que havia deixado em suspenso, a fim de retomar o empenho em alguns projetos iniciados anteriormente ao nascimento do meu neto, como as aulas de português e de inglês, ocupando o tempo presente de forma útil, diante das oportunidades que generosamente me foram oferecidas.

Como motivo de estudo, propus-me investigar o porquê de haver em mim esta inclinação a viver este estado emocional de expectativa, diante de acontecimentos que antecipadamente sei que me trarão felicidade e alegrias.

Com esta finalidade, examinei a minha trajetória de vida, as circunstâncias da minha infância, cuja expectativa era alimentada por algumas datas específicas como o aniversário, o Natal e a Páscoa, porque eram as datas nas quais eu ganhava algum presente, apesar de estarem estreitamente vinculadas “ao bom comportamento”. Havia ainda o dia do piquenique da escola, que prometia muitas brincadeiras, aventuras e risos, pois a possibilidade de que acontecesse estava apenas sujeita às condições do clima.

Recordo com nitidez que demorava para conciliar o sono naquelas longínquas noites, aguardando que tais datas chegassem. Para as crianças de hoje, talvez a expectativa dos presentes seja menor, porque não obedecem apenas às datas importantes ou à expectativa das nuances do clima — que já não existem, devido às informações precisas da previsão do tempo amplamente veiculadas. Por analogia, eu me questiono o que será que lhes gera esse “estado de expectativa” sobre o qual discorro hoje.

Como resultado dessas recordações, sinto necessidade de manter acesa a chama da esperança do reencontro, enquanto invoco a serenidade e busco ampliar minha concepção de paciência. Eis que, durante um estudo, eu me deparo com o conceito logosófico do vocábulo espera:

A espera – a bendita espera! – é um parêntese, grande ou pequeno, que se abre em nossa vida. Quem não aprende a utilizar-se desses espaços de tempo, inteligentemente, corre o risco de perder a paciência. ¹

Por consequência, obedecendo a esse conselho, nos dias seguintes reforcei meu empenho em fortalecer minha vontade na conquista dos objetivos, aos quais me referi anteriormente, para que este ínterim de espera seja proveitoso e me permita sorver as alegrias de cada projeto ao qual dou continuidade, conferindo-me a tranquilidade necessária para viver todos os dias com a mesma intensidade.

 

¹ Livro Senhor de Sándara, página 173,

9ª edição, Editora Logosófica – São Paulo.