É hora do recreio. Bato corda enquanto observo minhas alunas de cinco anos em sua brincadeira preferida. Um, dois três… Pulinho, pulão, pulinho, pulão…. Nina está na fila para pular corda. É a próxima. Gigi está pulando e parece que vai conseguir pular para sempre. 42, 43, 44… Enquanto isso, Nina treina, imitando os pulos, tentando aprender, mas sem conseguir passar de dez.

Gigi continua, pula girando, pula num pé só. 73, 74, 75… As outras meninas na fila olham para ela e para mim, tentando acompanhar a contagem, que já passou de 100. Até quem não está na fila já parou para observar. É o novo recorde da sala! 126, 127, 128… Gigi para, vencida pelo cansaço. As meninas vibram muito, batem palma, algumas a abraçam. Chega então a vez da Nina. Fico preocupada. Qual será a reação das crianças diante de desempenhos tão diferentes?

Viajo no tempo, me vejo adolescente, sempre muito fraca no inglês. As aulas na escola misturavam todos os níveis e, nas atividades orais, depois de colegas que falavam com uma fluência quase nativa, eu arranhava um “I’m fine, thank you”, numa pronúncia introvertida e desengonçada. Alguns colegas riam. Lembro da sensação de estar para trás. Caminho um pouco mais no tempo, estou na faculdade e vejo alguns colegas apresentando trabalhos muito simplórios, ridicularizados pelo professor.

“Professora, bate a corda!”. Nina me traz de volta da minha rápida viagem no tempo. Fico pensando se seria o caso de propor uma nova brincadeira, para poupá-la de uma situação difícil. Antes de decidir, ela me chama de novo e, não tendo como evitar, respiro fundo e começo a bater. Pulão, pulão… Ops! Mais uma chance: pulão, pulão, pulinho, pulão por duas vezes seguidas! Quando ela termina, os amigos novamente vibram muito, repetem as palmas e a primeira a abraçá-la é Gigi, que, a mais de cem pulos de distância, diz: “Parabéns, Nina! Você está quase conseguindo!”

Emociono-me com esse exemplo. Crianças valorizando o esforço de outras crianças, reconhecendo o mérito de estar no caminho e não só de cruzar a linha de chegada. São situações como essa que nos convidam a recordar d a criança que um dia fomos.