Embora isso pareça fácil de se conquistar, na prática não é bem assim! Estou me referindo ao fato de realizar as tarefas diárias com gosto… “Com o mesmo gosto que Deus fez tudo quanto existe.” Era realmente isso que eu desejava!…
Entretanto, como isso era pesado para mim! Aliás, até a própria vida era um peso. Precisava mesmo era mudar meu conceito de vida.
À medida que fui avançando nos meus estudos logosóficos, fui compreendendo que a vida é uma grande oportunidade de autoaperfeiçoamento, e essa compreensão me ajudou muito. Compreendi que precisava modificar, no meu interno, as causas que me impediam de fazer as coisas com gosto, com alegria, com boa disposição de ânimo.
Devido a um agravamento da crise financeira que nos afetava, sentia-me muito cansada em cuidar sozinha dos afazeres domésticos, atender aos dois filhos adolescentes, além de praticamente trabalhar fora o dia todo. Eis que, um belo dia, chega em casa meu marido com algumas camisas que comprara por um ótimo preço, pedindo-me que as lavasse e passasse.
Uma rebelião de pensamentos me pressionou, mas minha sensibilidade sinalizou, e compreendi que devia colocar ordem na mente. Respirei fundo. Contei até não sei quanto, procurando me serenar. Enquanto isso, meu marido me dizia que não precisaria delas tão cedo… Pensei em levá-las à lavanderia, mas realmente não era a melhor solução no momento. Disse-lhe então que faria isso sem mais tardar.
Mas, se estava empenhada em cumprir aquela decisão, como iria passar com gosto aquelas camisas, se além de não ter desenvolvido habilidades para tal, ainda me encontrava cansada e cheia de coisas por fazer? E eu que acreditava já ter conseguido fazer as coisas com boa vontade! Como ainda estava longe e distante daquela conquista…
Recordo-me que elas ficaram lá, por um bom tempo, enquanto reunia recursos internos para poder passá-las com gosto. Sentia que devia resolver logo aquela questão, mas nunca via surgir dentro de mim o querer sincero de passá-las. Até que me dei conta que esse querer não iria surgir assim de repente. Era eu quem deveria fazer essa vontade surgir dentro de mim.
Comecei assim a analisar serenamente minha posição interna. Já que eu estava sendo capaz de realizar tantas tarefas domésticas sempre com gosto, por que reagia tanto para passar aquelas camisas? Se era o cansaço, poderia então organizar melhor o meu tempo.
E, num esforço consciente para surpreender o que me faltava, percebi que o excesso de trabalho físico tinha me abalado. Assim colocava nele, no meu marido, a culpa pela sobrecarga das tarefas, quando na verdade se tratava de uma circunstância que poderia ser passageira.
Mas como apagar dentro de mim aquela incompreensão e fazer renascer o afeto e a boa disposição? Ah!.. A recordação e a gratidão! Sim, eram esses os valores que eu deveria buscar dentro de mim. Recordar dos valores que ele possuía, de seus esforços por levar adiante sua missão de pai e de esposo, e a alegria e gratidão por estarmos juntos naquela empreitada.
E, então, aos poucos, esses movimentos mentais e sensíveis foram me devolvendo a sensatez, fazendo-me experimentar uma mudança interna com relação a tudo que se relacionava ao momento que vivíamos. E vi surgir dentro de mim um querer verdadeiro de passar aquelas camisas. E a cada camisa que passava, recordava de algum valor que meu esposo possuía. De como tinha sido nossa vida, podermos ter a nossa casa e oferecer uma boa estrutura familiar aos nossos filhos.
Essa experiência foi vivida há muitos anos. E por que me recordo dela com tanta clareza de detalhes? Porque fui consciente e com ela aprendi um importante elemento que pôde se repetir em inúmeras experiências depois, até se constituir numa grande conquista para a herança de meu espírito.
É como ensina o autor da Logosofia:
É preciso fazer brotar a alegria interna para que se transforme em boa disposição, de modo que tudo seja feito com gosto e nunca se mortificando por isso ou aquilo, pois se estaria tirando todo o valor do que foi feito.