O ser humano é o herdeiro universal de todos os dons da Criação. Mas isso não quer dizer que os herde naturalmente; significa somente que é o único que pode herdá-los. Pode herdar todo o bom como todo o mau que existe, segundo sejam suas inclinações e o grau de discernimento alcançado. Conceituamos, pois, a herança do pensamento de primordial importância para a vida da pessoa.

Por uma lei sábia e universal, inalterável e inexorável, os legados da inteligência pertencem à humanidade

Os pensamentos de alto nível hierárquico moral e mental que animaram a vida de tantos homens esforçados e abnegados, de renome mundial, não recolheram suas asas ao se extinguirem essas vidas, nem se ocultaram entre as páginas do último sonho ou entre as sombras da última morada; ao contrário disso, remontaram o voo e, em fecundas e gloriosas etapas, cruzando mares e continentes, espalharam pelo mundo os benefícios de sua presença, como agentes precursores de grandes verdades e como auxiliares poderosos do entendimento humano. Assim, navegando pelos céus de todos os povos que existem na Terra, já vimos os nomes de gênios, sábios e heróis de cruzadas eternamente memoráveis.

Os velhos mestres da Antiguidade, entre os quais estiveram pensadores famosos e filósofos, dedicaram-se de corpo e alma a exemplos que acreditaram fossem justos; os cientistas que apontaram novas rotas para o melhoramento humano sempre foram tidos como grandes, quando seus pensamentos conseguiram despertar a atenção e fazer com que se percebesse o bem que continham.

Em quantas mentes a luz desses pensamentos penetrou? Quantas foram fecundadas pela semente de extraordinárias concepções da inteligência, nas quais eles participaram com todo o poder de sua influência criadora?

Eis explicada a herança do pensamento. Vamos agora nos referir aos que, herdando o pensamento de celebridades universais – como veículo influente que permite sua maior expansão –, deram motivo a que germinassem os conhecimentos em épocas florescentes, estendendo-se os benefícios por todos os âmbitos do mundo.

Assim, os descobrimentos da ciência tiveram seus continuadores, os quais, em heroicas jornadas e numa leal consagração à causa da humanidade, mereceram participar da glória de seus principais inspiradores, cujos nomes pluralizaram ao serem chamados os Pasteurs, os Newtons, os Ehrlichs, os Marconis, etc. Tais menções implicam o reconhecimento da autoridade dos dignos herdeiros daqueles pensamentos benfeitores, que tantos serviços prestaram à humanidade.

Poderão nos perguntar ainda o que é que, com maior força, pode vincular as mentes aos pensamentos de elevado nível hierárquico de eminências que existiram ou existem, cuja capacidade ficou evidenciada por suas produções de elevado valor moral, científico ou de qualquer outra espécie, e nós responderemos sem a menor dúvida: o exemplo.

Essa é a expressão inconfundível e mais acertada com que se pode reconhecer a legitimidade dessa herança.

Extraído de Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 3, p.83

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo III

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo III

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.