Iniciados em filosofia, em especial os socráticos, já têm no “conheça-te a ti mesmo” o principal objetivo e aspiração das reflexões humanas. Entre as perguntas que não querem calar, talvez estejam o “quem sou eu?” e o “de onde vim?” ou “para onde vou?”, que vêm bem acompanhadas de inquietações e talvez algumas “crises existenciais” de vez em quando.

Embora Sócrates, em suas grandes contribuições, teria visto a importância de buscar essas respostas partindo da consciência da própria ignorância para chegar nada menos do que ao “conhecimento do universo e dos deuses“, não deixou claro em seu método como alcançar de forma segura tal conquista.

Ele apresentou a importância da autorreflexão e das perguntas para que se comece a ser responsável pelo próprio conhecimento, mas que tipo de perguntas eu devo fazer? Sobre o que devo refletir? De que consiste esse conhecimento?

O Método Logosófico

A Logosofia, enquanto ciência, apresenta um método original para alcançar o conhecimento de si mesmo, considerando-o como um de seus sete grandes objetivos!

“Seus grandes objetivos são: […] 2) O conhecimento de si mesmo, que implica o domínio pleno dos elementos que constituem o segredo da existência de cada um.” Do livro Curso de Iniciação Logosófica, parágrafo 19.

O Método Logosófico será o foco de ciclos futuros em nosso site, então fique ligado e se inscreva em nossa newsletter para ser notificado quando mais conteúdo sobre ele for publicado.

Portanto, sem desvalorizar de maneira alguma a contribuição dos antigos pensadores e filósofos sobre o tema, a Logosofia apresenta uma técnica clara para auxiliar quem aspira tal conhecimento a conquistar sua liberdade de pensar. É a principal liberdade que se pode conquistar e já era implicitamente valorizada por Sócrates.

Neste texto, tendo a intenção de resumir e abordar de maneira ampla o tema, com base na Ciência Logosófica, seu método e o que já aprendi até o momento com o pensador e humanista González Pecotche, fundador desta escola.

Caso você, leitor, tenha interesse em um contato mais aprofundado com os ensinamentos e o método da Logosofia, sugiro fortemente a leitura dos livros disponibilizados gratuitamente aqui no site. O que indico para começar é o Curso de Iniciação Logosófica, pois dá um panorama geral da Logosofia, do contexto em que surgiu – relevante até hoje, mais de 90 anos após o início das atividades da Fundação Logosófica – e de seus objetivos.

Também é possível acessar testemunhos e relatos de experiências realizadas com esse método pelos estudantes e investigadores dessa ciência, em nosso portal eletrônico ou em nossa newsletter.

Antes de continuar, vale a ressalva: não é possível alcançar o conhecimento de si mesmo sem experimentar e praticar o que se estuda. Isso porque é a única forma de garantir a posse desse conhecimento. Além disso, serão necessários empenho, esforço, paciência e constância para alcançar algum resultado. Afinal, se trata nada menos do que transformar a si mesmo e com isso o próprio destino.

A Logosofia, enquanto ciência, é experimental e exige que o estudante realize o estudo de maneira a comprovar, por si mesmo, as verdades que ela apresenta, sem a necessidade de “acreditar cegamente” em nada do que é ensinado.

Neste post, tratarei dos seguintes tópicos:

O que é, então, o conhecimento de si mesmo? O que há para conhecer?

Assim começa a jornada de um aspirante ao conhecimento de si mesmo. Para responder “quem sou eu?”, convém perguntar-se primeiro o que é esse “eu”, e de que é composto. Nos estudos iniciais de Logosofia é sugerido que se comece compreendendo o ser humano em sua configuração psicológica, para sabermos com que recursos podemos contar para percorrer o caminho.

Essa configuração compreende três sistemas: o mental, o sensível e o instintivo. Compreendê-los significa saber fazer bom uso deles e com mais acerto. Já é uma parte do conhecimento de si mesmo.

É um estudo que acho bem interessante, pois sinto que ao ir dominando cada sistema um pouco mais, vou ficando mais inteligente. É muito boa a sensação de verificar, olhando para o Augusto de anos atrás, como eu sou capaz de realizar mais, e ao mesmo tempo o quanto vejo que ainda posso aprender e avançar.

Em seguida, o método logosófico sugere fazer um inventário dos bens mentais, morais e espirituais que se possui, a partir do qual podemos ir “depurando o espaço interno”. Isso quer dizer que eu posso conhecer o que eu tenho no meu mundo interno, onde só eu posso caminhar, selecionar o que acho que se adequa mais ao que eu quero ser e, por fim, eliminar aquilo que não é adequado ou me causa problemas, tristeza ou inquietação.

Especificando um pouco mais sobre esse inventário, temos:

  • Bens mentais: os conhecimentos e pensamentos que tenhamos reunido e que somos capazes de usar com acerto e domínio.
  • Bens morais: a nossa conduta e caráter, refletidos em nossas ações e no conceito que inspiramos frente àqueles com quem convivemos.
  • Bens espirituais: representados pelos dois primeiros, somando-se o conhecimento que tenhamos de nosso próprio espírito.

Neste vídeo, Walkiria Franco, de Curitiba, conta um pouco de como percebeu, ao observar sua atuação, os bens que possuía em seu interno. Também relata como o conhecimento de si mesma lhe permitiu realizar essa depuração interna e estar, hoje, mais satisfeita consigo mesma.

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É justamente nesse mundo interno, que todos nós possuímos, em que a Ciência Logosófica mais pode ser aplicada. É também nele que devemos “mergulhar” para alcançar o conhecimento de si mesmo.

A tríplice configuração da psicologia humana

Como já disse, uma das partes do método logosófico envolve o conhecimento da configuração humana, para sabermos com que recursos internos podemos contar no caminho rumo ao conhecimento de si mesmo.

A concepção logosófica de ser humano o apresenta como um ser bio-psico-espiritual, ou seja, tem uma parte biológica, outra psicológica e outra espiritual. No livro O Mecanismo da Vida Consciente, González Pecotche faz uma analogia com um carro, que acho boa para diferenciar essas três partes.

  • Biologia: Nosso corpo físico é como a carroceria do carro, composta pelos sistemas biológicos, perfeitos em sua concepção, que nos mantêm vivos para percorrer o caminho dessa vida. São meus braços, pernas, cérebro e tudo mais do meu corpo.
  • Psicologia: Essa parte do humano resume sua “alma” ou a parte anímica, e também tem seus sistemas próprios que operam como o motor do carro, impulsionando e movimentando o veículo nos diferentes trajetos da vida. É minha mente, minha sensibilidade, meu instinto.
  • Espírito: Este aqui é o condutor, é quem dá a direção, acumula a experiência e os conhecimentos necessários para o bom funcionamento do veículo e sua manutenção. Quando esse veículo ficar velho e já não responder bem às necessidades que o infindável caminho do aperfeiçoamento exige, esse condutor pode abandoná-lo e usar de sua experiência acumulada para conduzir outros veículos.

Acho uma imagem muito bonita e esclarecedora. Se os sistemas que compõem o meu veículo estiverem desajustados, sem revisão, posso começar a ter problemas. Por isso, preciso não só cuidar bem da carroceria e do motor, mas aprender e buscar conhecimentos sobre seu funcionamento, para manusear melhor meu veículo. Assim, os conhecimentos que eu for assimilando e dominando, a ponto de serem inseparáveis de minha pessoa, estarão sempre comigo e resistirão até mesmo à minha morte. Dá o que pensar, não é verdade?

A analogia encaixa bem, pois me recordo de quando era jovem e comecei a dirigir. Eu queria tirar o máximo de eficiência do carro. Engenheiro e interessado nessas coisas como eu sou, fui logo aprendendo sobre como funciona o motor, a embreagem, a marcha, o combustível etc. Tudo que eu precisava para conseguir fazer o melhor rendimento… e economizar na gasolina no final do mês. Afinal, era jovem universitário e bem pão-duro.

Neste texto, Ernesto Mendonça, de Goiânia, faz uma outra analogia. Conta sobre algo que viveu com a esposa e lhe fez pensar sobre a importância de saber “o que somos” além de “quem somos”, algo bem relacionado a esse tópico do conhecimento de si mesmo.

Nome, CPF, Endereço e Telefone: Quem Sou Eu?

Ernesto Mendonça, de Goiânia, conta sobre algo que viveu com a esposa e lhe fez pensar sobre a importância de saber "o que somos" além de "quem somos".

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Espírito e Alma, uma diferença importante

Acho oportuno separar um tópico breve aqui esclarecer esse importante ponto que a Logosofia apresenta, consequência direta de sua concepção de ser humano. Em paralelo à sua configuração bio-psico-espiritual, afirma que temos duas naturezas: a física e a espiritual.

A natureza espiritual é parte do que não morre no ser humano, tem essência mental e se manifesta nele através do espírito humano, que eu descrevo para mim como a energia interna que impulsiona minhas inquietudes e vontade para saber mais sobre mim mesmo. Ou seja, conhecer a si mesmo não seria uma aspiração de ninguém, sem a influência dessa natureza única do ser humano. É também o que nos diferencia dos animais, pois, apesar de termos configurações biológicas e até psicológicas similares, o ser humano “é o único ser da Criação capaz de experimentar câmbios por própria determinação”.

Aproveito esse trecho que citei, para recomendar a leitura do livro do qual o extraí: O Senhor de Sándara. Esse é um livro que acho “único” entre a bibliografia de González Pecotche, pela forma que é escrito. É um romance com personagens bem interessantes.

Complementando a imagem humana temos sua natureza física, da qual fazem parte seu corpo e sua alma. Aí que está a diferenciação importante a ser feita: a alma humana é o “ser” em sua configuração psicológica e está atrelada à matéria, e por isso se deteriora com o corpo após a morte. Não há espaço para falar mais sobre isso aqui, mas sugiro ler o livro “O Espírito“, onde esse aspecto é amplamente explicado.

É como diz o estudante David Cohen na palestra online que deu com o título “Quem sou eu?“: “o que temos tem data de validade, já o que somos não”. Aqui neste outro vídeo, de Sebastião Pádua, do Rio de Janeiro, apresenta outras reflexões sobre o assunto que também achei interessantes, diferenciando “mente” e “cérebro”.

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As deficiências psicológicas e o importante trabalho de combatê-las

Também citei no início desse texto que parte do conhecimento de si mesmo envolve “depurar nosso espaço interno”. Isso está intimamente ligado a uma das partes do conhecimento de si mesmo que eu diria ser a que me dá mais trabalho. É o combate ao que a Logosofia define com as deficiência e propensões psicológicas do ser humano.

Aqui está outra imagem que acho que resume bem o que vivi: eu começo a “adentrar” em mim mesmo e espero encontrar só coisas belas, uma imagem perfeita, mas ao me deparar com meus defeitos, acabo vendo uma imagem distorcida, desfocada e feia. Quem já passou por isso vai saber do que estou falando, é feio quando vemos algo em nós que não nos agrada.

Neste vídeo, Francisco e Vera Escorsin relatam viver algo parecido, o que me deixa tranquilo de que ao menos sozinho não estou nessa inquietude e no esforço para ir me “embelezando” internamente.

O método logosófico apresenta a técnica para combater esses defeitos, por ser um esforço intimamente ligado ao conhecimento de si mesmo e à transformação do próprio destino. Afinal, ao nos conhecermos, podemos mudar quem somos e alcançar uma existência muito mais feliz, não é verdade?

Por exemplo, uma vez vi que eu estava sofrendo devido a uma característica que eu tinha, que começou como algo bom em mim acabou virando um defeito e eu tive que trocá-la por outra forma de conduta. Eu relato isso neste texto aqui: Ser Responsável Pode Fazer Mal?

Ser Responsável em Excesso Pode Fazer Mal?

Você sente que exige muito de si mesmo? Sente-se cansado e que não vai conseguir fazer tudo o que tem que fazer? Eu também sentia isso, leia aqui minha história...

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No texto eu falo um pouco também da técnica logosófica para esse combate, mas caso tenha interesse em se aprofundar “direto na fonte”, sugiro o livro “Deficiências e Propensões do Ser Humano” ou este outro texto, extraído e adaptado desse livro.

Mundo próprio, uma possibilidade que se abre com o conhecimento de si mesmo

Tudo o que eu já citei até aqui – vale dizer, é apenas uma pequena amostra do que a Logosofia tem a oferecer – abre um enorme campo de possibilidades para o ser humano. Diria que conhecer a si mesmo é a base para alcançar a maior de todas as liberdades, que é a de pensar.

Isso acontece porque na medida que nos conhecemos, vamos ganhando maior controle sobre os pensamentos que habitam nossa mente. Desse trabalho de depuração vai surgindo um novo ser, uma nova individualidade. Ou seja, cada um se torna capaz de criar um “mundo próprio”, dentro de si mesmo, onde é livre para se mover para onde quiser.

Isso é algo muito valioso em um mundo em que a polarização e ideias extremistas travam uma verdadeira “guerra mental”, tentando puxar as mentes das pessoas para um lado ou para o outro. Nesse cenário, aquele que conhece a si mesmo tem o poder de alcançar uma posição inteligente e única, pois define o que quer com segurança e sem trair a si mesmo.

Afinal, como já dizia Sun Tzu: “se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.”. Isso é ainda mais válido para quando a batalha é na mente!

Conto um pouco sobre isso neste outro texto que eu escrevi: O Que Há Por Trás da Briga de Torcidas?

O Que Há Por Trás da Briga de Torcidas?

Qual deve ser minha posição enquanto indivíduo em um mundo marcado por brigas de grupos políticos e ideológicos? Deve ser própria!

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Conclusão: conhecer a si mesmo é uma das bases de um mundo melhor

Tudo o que eu citei até o momento faz parte do trabalho proposto pela Logosofia para se alcançar o conhecimento de si mesmo. Mas para que todo esse esforço? O que tenho a ganhar com isso?

Como já disse antes, são conhecimentos que podem mudar o destino do ser humano. Sei disso pois mudaram o meu. Quando começo a pensar em tantas coisas de mim que mudaram graças à aplicação do método logosófico, me impressiono. Eu tenho certeza que seria um ser muito diferente, mais infeliz, se não fossem essas conquistas.

Ao mesmo tempo, esse conhecimento é um poder. Com esse poder, de mudar a mim mesmo e de não somente ser feliz, mas saber por que sou feliz e como alcancei esse estado, eu posso estender esse bem para os demais, da mesma forma que estou tentando fazer aqui neste texto e da mesma forma que muitos estudantes de Logosofia buscam fazer. É essa uma das missões da Fundação Logosófica.

Espero que tenha gostado deste conteúdo e que desfrute dos conteúdos que separamos aqui para o nosso portal. Se tiver interesse em colaborar conosco, saiba que são sempre bem vindas mais mãos e mentes para juntarem-se às fileiras de construtores desse novo mundo, que tem como base a nova cultura que a Logosofia se propõe a criar, com base nos conhecimentos que apresenta, como o próprio conhecimento de si mesmo. Procure uma de nossas sedes culturais para saber como contribuir.