Final de tarde de sexta-feira. Saindo do trabalho, despedi-me do porteiro e passei a analisar o vivido naquele dia: estou tranquila por ter me esforçado, com a certeza de que fiz o bem a muitas pessoas, com a clareza de que hoje, verdadeiramente, brilhei!

Cheguei ao local onde estava meu carro. Bastava uma conversão rápida, fora da lei de trânsito, e já estaria na direção de minha casa, o que, de fato, economizaria uns bons quarteirões. Olhei bem para os dois lados da avenida, aguardando o momento “oportuno” para fazer a manobra. E não demorou muito para tudo mudar: a alegria e a tranquilidade de minutos antes se foram. Uma simples conversão (totalmente inadequada) fez com que meu propósito mudasse: junto a ele, meu sentir, meu pensar, minha serenidade.

Não podia permitir que aqueles momentos, em que brilhei, se perdessem ali no meio daquela avenida, em meio ao barulho da colisão entre os dois veículos, assustando a muitos. A imagem forte do rapaz voando sobre meu carro, a braveza do motociclista para comigo, a solidariedade de algumas pessoas atenciosas e carinhosas com a desconhecida que eu era e que acabara de atuar mal.

Não posso ignorar a grandeza desse fato que, aparentemente, foi um acidente. Acidente? Terão sido acidentais todas as minhas distrações? Terão sido acidentais o descuido, a confiança no acaso, a frequente desobediência a tantas leis?

E aqui me refiro a leis e Leis! Àquelas que estão impressas em papeis e às que estão impressas na Criação de Deus. Quero muito aprender, quero muito superar minhas falhas e é a isso que me proponho todos os dias. Por que não realizo meu querer? O que faz com que muitos de nós tomemos rumos tão diferentes de nossos mais íntimos sentimentos de bem?

Estou aprendendo a observar o que ocorre dentro de mim, o que me leva a atuar de uma maneira ou de outra. O que faz com que uma atitude impensada mude meus planos e os de outras pessoas? Faltou pensar e faltou algo fundamental: controlar um pensamento desobediente e insensato.

Sinto que essa “batida” foi um presente para mim! Um presente de Deus para eu aprender! Mas sei também que Deus não vai me dar sempre presentes assim. Tenho que saber desembrulhá-los, apreciá-los e usá-los com inteligência e sensibilidade em todas as situações em que conseguir.

Refletir sobre nossas experiências, retirando algo para ser melhor, é uma perspectiva que amplia a vida Erramos sim, mas podemos nos corrigir e seguir melhores, sem necessidade de nos penitenciar ou nos denegrir. É bom demais descobrir quem somos e quem queremos ser. Minha alegria hoje é saber que meu erro, daquela vez, não causou dores e estragos maiores. O motociclista e seu carona não se machucaram. Minha gratidão hoje é por ter a chance, uma vez mais, de aprender com meu erro, acertando muitas vezes, e evitando incorrer em falhas tão elementares. E, por fim, a certeza de que nada acontece por acaso. Se observar o que vivo, posso realmente dar um passo seguro na construção de um ser humano melhor para mim mesma e para a sociedade. Afinal, quero ter outras chances de me despedir do porteiro, analisar o vivido em um dia de trabalho, sentir tranquilidade por me esforçar, tendo a certeza de que fiz o bem a muitas pessoas e que, verdadeiramente, brilhei!