Tenho a impressão de que a grande maioria das pessoas busca trabalhar menos. “Querem” relaxar, descansar ou simplesmente viver sem preocupações. Observei essa tendência em mim nas últimas semanas quando as demandas da profissão se intensificaram, mas não era um “querer” meu. Era um pensamento que dizia: “Que trabalhoso! Espero que termine logo esse período para eu poder relaxar!”. Depois de identificar esse ser animado de minha mente, tentei mudar a forma de trabalhar e tornar o ato do trabalho mais agradável.
Afinal, o que eu faria na vida sem o trabalho? Viveria numa espécie de Éden sem fazer nada? É isso o que eu quero, de verdade? Que objetivo teria a vida nesse caso? De que valeria estar vivo?
Lembrei-me de quando comecei a trabalhar com inovação e startups, minha atual profissão, e como estava estimulado pela oportunidade de conhecer muitos e diferentes negócios, aprender com eles e até ajudá-los, fazendo a diferença no seu desenvolvimento. Como eu poderia ter “preguiça” do que eu escolhi viver e ninguém está me obrigando, apesar das necessidades financeiras?
Talvez isso ocorra porque em nossa cultura o trabalho é visto como algo negativo. Somos estimulados a buscar a aposentadoria, os fins de semana, as alternativas fáceis, tudo que faça passar mais rápido o que é difícil, mas sem pensar no valor que tem cada segundo da vida. Imagine vivê-los, os segundos, querendo que passem rápido, para depois lamentar e pedir mais alguns ao final da vida…
Não! O espírito humano pede mais! Se eu quero valorizar a vida, tenho que dar às lutas e tempos difíceis uma finalidade útil, pois são tão naturais que se pode dizer que luta é vida. Na própria natureza e no universo, as coisas vivas nunca estão paradas, estão sempre lutando. Tudo está em constante movimento, sejam os átomos, as árvores, os animais ou os planetas. Quando não há movimento e só há inércia, parece não haver mais vida, e chamamos isso de morte.
Quero ser vivo ou morto? Respondi para mim essa pergunta, ao trocar minha posição interna frente às próximas viagens de trabalho e atividades que teria que fazer. No lugar do mal humor e da irritação, cultivei a alegria e a recordação de que “se estou vivo, é para estar ativo e, também para trabalhar, então que seja com gosto!”. O movimento é algo tão natural e universal que diria funcionar como as leis da física.
O resultado desse esforço tem sido mais energia e boa disposição para encarar desafios que eu tenho que enfrentar. As entregas no trabalho até melhoraram, pois, a mente e a inteligência parecem se ativar com o combustível do estímulo gerado, o que é diferente de fazer algo por obrigação. As engrenagens desse motor psicológico ficam melhores lubrificadas após um esforço de lucidez frente ao que vivo e ao que estimo viver como ente humano, esforço inteligente e de organização mental como o que acabei de descrever. A consequência? Fico mais feliz! Aproveito de uma felicidade que criei no período difícil, e consegui “viver os segundos” com maior proveito e intensidade.
Aqui uma ressalva que observei nessa vivência: essa mudança de postura deve ser renovada todos os dias, se não a tendência de buscar apenas o “fácil” e o “ócio” retorna, seja porque ainda estou me adestrando, seja pela influência dos pensamentos que estão em nossa cultura, que como um vírus, se transmite de um corpo para outro, se o sistema imunológico – a mente – não estiver ativa.