Sempre tive facilidade para fazer amigos. Não ficava criando problemas de convivência e, como eu demonstrava docilidade às sugestões dos colegas, muitas vezes me encontrava na situação de estar no meio de um desentendimento entre duas amigas. E então surgia o dilema… não sabia para que lado eu iria, com quem eu iria concordar. Com isso, eu sofria por não querer contrariar nenhuma delas. Era a insegurança que não me deixava pensar, defender uma opinião ou mesmo um conceito próprio. Pensava que uma boa amiga não deveria contrariar a outra.

A partir de conversas com pessoas queridas, experientes e que me inspiravam confiança e admiração pelos valores que tinham — com os estudos de Logosofia, que comecei na adolescência —, passei a refletir sobre essas situações. Precisava ampliar meu conceito sobre amizade, sobre a valentia, sobre a importância de aprender a pensar por minha conta e não fazer tudo da forma que os amigos queriam, contrariando até mesmo meus valores.

Fui compreendendo que ser amiga de verdade não significava que eu deveria concordar com tudo que o amigo faz ou diz, mas sim saber expor o meu pensar e o meu sentir com sinceridade, sendo bondosa, respeitosa e leal a mim mesma e à amizade. As afinidades entre os amigos são muito importantes, mas sempre haverá diferenças.

Nesse esforço, muitas vezes me calava e dava um jeito de sair da situação, sem me
comprometer, pois, não me sentia ainda capaz de atuar. Porém, certa vez, houve um momento marcante. Resolvi chamar uma amiga para conversar. Queria ajudá-la, pois, na minha percepção, ela não estava se portando bem em um ambiente que frequentávamos. Sua conduta já estava afetando o seu conceito perante os demais e minha intenção era ajudá-la, mas a forma como agi foi equivocada.

Levei-lhe todas as minhas observações. Ao final, como era previsível, ela manifestou-se chateada comigo e não recebeu aquela conversa como uma ajuda. Disse-me que eu só havia falado coisas negativas dela, que em nenhum momento eu havia visto algo de positivo no que ela fez. Disse também que nós duas éramos muito diferentes nesses aspectos e que nunca seria igual a mim. Enfim, não deu certo.

Analisei a experiência inúmeras vezes e, até hoje, retiro aprendizados dela. O que posso dizer, de forma resumida, é que, para oferecer ajuda a alguém, devemos planejar isso com muito carinho e atenção. Nunca devemos desrespeitar o que o outro ser humano é. Devemos recordar dos seus valores, falando sempre com muito afeto e sem querer impor o que pensamos, procurando apenas mostrar o que nós faríamos se estivéssemos vivendo aquela experiência. Cabe a cada um fazer suas opções, suas escolhas, e, por mais que pensemos diferente, devemos respeitar as opções e o processo do outro.