Cresci ouvindo as pessoas dizerem: o mundo é dos fortes.

Cresci ouvindo as pessoas dizerem: quem é sensível é fraco.

Ouvia muito também dizerem: mulher é fraca, chora à toa!  Homem tem de ser forte, não pode chorar!

Cresci experimentando muitas dúvidas e incertezas frente à vida e perguntando-me qual seria a minha missão aqui, neste mundo, como ser humano, como mulher.

Gostava muito de escrever cartinhas, de forma espontânea, manifestando o que sentia às pessoas queridas. Eu me emocionava em todas as situações que tocavam o meu coração. Porém, sentia uma certa vergonha por me emocionar. Por que me sentia daquela maneira? Experimentava uma reprovação interna, como se o fato de sentir emoção fosse algo errado e estranho às pessoas.

Cresci ouvindo as pessoas dizerem: você é tão sensível!

Mas como poderia ser feliz, associando minha conduta aos conceitos culturais vigentes? “Ser sensível é sinal de fraqueza” — de acordo com essa ideia, por ser sensível, eu seria uma pessoa fraca, já que “o mundo é dos fortes”.

Então, qual era o meu lugar neste mundo?

Onde e como encontrá-lo? 

Como ser feliz assim? 

Sofria muito, na intimidade do meu ser, pois me sentia diferente, um “peixe fora d’água”.

Depois de muito caminhar buscando respostas para as minhas inquietudes, encontrei a Logosofia e, com ela, uma extraordinária possibilidade de me conhecer como ser humano, bem como de identificar os recursos com que posso — e devo — contar. E de compreender também questões profundas da minha vida e de vivê-la em toda a sua plenitude e possibilidades.

Li um dia, em um livro logosófico, que eu poderia ser “forte e sensível”. Mas como isso poderia se dar se, dentro de mim e de acordo com os conceitos que internalizara, jamais poderia haver esta conciliação: sensibilidade e fortaleza.

Aos poucos, descobri que todos os seres humanos possuem um extraordinário e imprescindível recurso, a sensibilidade!

Fiz mais uma descoberta interessante e sutil: nem todo choro tem relação com a verdadeira sensibilidade — muitas vezes, ele está associado ao sentimentalismo, o que é bem diferente — mas quando advém dela, a emoção que faz os olhos marejarem é sublime e encantadora — tanto para a mulher como para o homem. E a realidade de experimentar emoções e permitir que a sensibilidade se manifeste não torna de forma alguma os seres fracos. Muito pelo contrário: ela nos fortalece e nos torna mais felizes. Na verdade, a debilidade se encontra na mente humana, como deficiência psicológica. Jamais na sensibilidade.

Ao descobrir e cultivar a verdadeira sensibilidade com consciência, tenho comprovado como ela é um poderoso recurso que possuo enquanto ser humano.  Ela me fortalece, me proporciona sentir a beleza dos elementos da Criação, faz com que eu não seja indiferente ao meu semelhante, a mim mesma, ao Criador, ajudando-me sempre a construir o novo ser humano que aspiro ser: mais humano, menos agressivo, porém mais valente frente à vida que tenho por viver.


Márcia Nagem é casada, tem um casal de filhos adultos, é farmacêutica, servidora pública federal aposentada. Sempre teve interesse por grandes temas ligados à condição humana. Iniciou seus estudos de Logosofia em 1987 e gosta de compartilhar o que tem aprendido com essa ciência da vida.