Todos os jovens, de ambos os sexos, em via de contrair matrimônio deveriam formular para si a seguinte pergunta: “Para que quero casar-me?”

Eis a interrogação que o homem deveria propor a si antes de realizar esse empreendimento. Essa pergunta nos leva a pensar que casar responde ao desejo de adotar o gênero de vida oferecido pelo matrimônio. A essa conclusão terá de nos conduzir, necessariamente, o fato de haver encontrado o par que corresponda às aspirações e que reúna, por conseguinte, as condições para, juntos, serem felizes.

O homem quer formar um lar e dedicar-se, com a espontaneidade que surge de seu coração, aos seres queridos que haverão viver nele: sua esposa e filhos

Mas, para que isto seja uma realidade, o amor que a mulher tenha chegado a lhe inspirar terá de predominar sempre em alto grau sobre sua condição sexual, propensa a excitar seus sentidos e desviá-lo desse objetivo. Assim sendo, jamais se ofuscará a imagem refletida no espelho de seu sentimento. Como, porém, conservar através dos anos o encanto desse amor puro, nobre, profundo, que a alma respira nos dias de namoro? 

Ocorre com extrema frequência que o homem, depois de experimentar a convivência com muitas mulheres, decide fechar os olhos para todas e olhar somente para aquela que ele escolheu com o fim de enfrentarem juntos a grande batalha da vida. Que particularidades misteriosas viu ou descobriu nela, a ponto de distingui-la, colocando-a em lugar tão privilegiado? E por que acontece com tanta frequência que o homem considere ter se equivocado em sua escolha?  

Se ele parasse para pensar em suas próprias deficiências, é provável que na maioria dos casos tal coisa não sucederia. Muito é o que o homem tem de aprender, e não menos a mulher. Duas coisas são indispensáveis para que perdure esse amor fresco e puro que se sente pela pessoa amada, sem que se debilite jamais. A primeira é o afeto, que, menos impulsivo que a paixão, assegura seu arraigamento. Se bem seja certo que a paixão infunde vida ao amor, o afeto é chamado a preservá-lo e conservá-lo. A segunda, tão indispensável quanto a primeira, é nossa dignificação aos olhos do ser querido. Isso só se consegue por meio dos esforços e das preocupações pelo bem-estar da família, e alcança sua máxima expressão quando nos elevamos, numa superação constante.

Sendo o amor uma força e um poder, nenhuma circunstância poderia ser mais oportuna para experimentar sua virtude do que a de cultivá-lo na consagração definitiva de um lar que possa ser exemplo para outros lares. O amor é, pois, o grande elemento que infunde confiança em nossas próprias forças.

Extraído de O Senhor de Sándara, p.212-215


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.