Vira e mexe somos colocados à prova no quesito “paciência”.  

Inúmeros e corriqueiros são os episódios em que nos flagramos (ou somos flagrados) chiando, “cuspindo marimbondo”, explodindo, ou de qualquer outra forma que seja chamada a tão conhecida e famigerada impaciência!… 

Mesmo os mais pacientes têm um calcanhar de Aquiles. Há dias em que acordamos “daquele jeito” e não há como aturar, justamente, nesse momento, isso ou aquilo acontecendo. Paciência tem limites, não é o que se diz? 

Fico perguntando-me, então: de que vale possuir uma virtude como a paciência, neste caso, e, ao mesmo tempo, ficar à deriva das intempéries normais de um dia atribulado que todos enfrentamos invariavelmente? Uma virtude, no conceito mais puro da palavra, deve sofrer contaminações? Ou será que o que temos ainda não é a virtude propriamente dita, mas um arremedo dela que, tênue, precisaria se fortalecer e se solidificar em nós? Aí, sim, teríamos realmente condições de optar entre agir com a deficiência da impaciência ou com a virtude da paciência.  

Admiro quem consegue equilibrar-se numa corda bamba — ou flexível, se preferirem. Assim é o slackline, uma modalidade esportiva que exige muito esforço, postura e concentração mental. Também é necessário ter uma boa dose de paciência!  Com a corda a um palmo e pouco do chão, há quem se arrisque, como eu, a buscar um equilíbrio por alguns poucos momentos. Afinal, qual o risco, se podemos pular para a segurança do solo rapidamente?  

Porém, o desafio de caminhar sobre uma corda assim, a alturas impensáveis e com a destreza requerida, somente é vencido por aqueles que tiveram a paciência de aprender e desenvolver a prática. Por mais que admiremos ou até queiramos, quando ficamos inertes, nada se modifica em nossa capacidade. É a paciência passiva que nos alimenta a ilusão de que as coisas podem resolver-se por si sós, por puro acaso. 

Para que a paciência seja um elemento favorável ao êxito em qualquer campo de nossa vida, é preciso que seja ativa.  

A paciência ativa a inteligência do tempo, devendo-se entender, é lógico, que nos referimos à paciência de quem sabe esperar.1 Como no exemplo do slackline, saber esperar exige aprendizado, exercício, esforço e treino contínuo. Com a aquisição de virtudes, sejam elas a paciência inteligente, a tolerância, a prudência ou quaisquer outras2, também deve ser assim. A dificuldade em perceber essa realidade pode levar-nos às vias da inconsequência, fazendo-nos negligenciar a própria vida como um campo de aprendizado e superação. 

Os melhores êxitos que o homem já pode ter, na conquista do bem, foram graças a essa paciência ativa manifestada em sua perseverança, seu labor ininterrupto, sua consagração, e graças também a essa fé consciente que se vai arraigando na alma mercê das próprias constatações.