Fui um dos primeiros alunos da 1ª turma do Colégio Logosófico de Belo Horizonte, criado em 1963. Minha mãe chegou a visitar outras escolas, mas, por indicação de uma amiga, quis conhecê-lo.
Na aula inaugural, que contou com a presença dos pais, alunos e professoras, a diretora falou sobre o que iríamos aprender. Surpreendendo a todos, colocou minha irmã em cima de uma mesa e perguntou:
— Ela vai ficar sempre desse tamanho?
— Todos responderam: Não!
— Ela vai crescer?
— Novamente, todos falaram: Vai!
A diretora disse, segundo minha mãe, que todos iriam crescer, mas que naquela escola aprenderíamos a crescer de outra forma: “crescer no bonzinho”, o que significava ser melhor.
Essa expressão, que ouvi muitas vezes ao longo da minha vida escolar, marcou minha infância.
A diretora ainda disse que iríamos aprender algo muito importante: “que em nosso coração, assim como no das demais pessoas, cabem muitos amores, e que, além do amor aos pais, e irmãos, esse sentimento poderia abrigar o amor a Deus e a toda a humanidade.
A aula inaugural encantou minha mãe!
Em 1963, havia poucas turmas e a estrutura física era bem simples, com poucas salas, algumas até improvisadas, mas tudo preparado com muito carinho. O ambiente era acolhedor e de muita alegria.
O Colégio mudou a minha história e a história de minha família!
Quando iniciei meus estudos, era uma criança inquieta e agitada, e tinha até mesmo muita dificuldade para permanecer sentado. Recordo-me de que, apesar de todo o trabalho que dei durante o início da minha vida escolar, as professoras realizavam, sempre com muito afeto, um importante trabalho docente.
Assim, para que eu me desenvolvesse e tornasse um menino e um adolescente cada vez melhor, foi preciso, aos poucos, aprender a conhecer e identificar dentro de mim o que me impedia de ser um bom aluno e um ser humano mais feliz.
Certa vez, no pré-primário, atual 1º ano do ensino fundamental, estava desobedecendo à professora, pois conversava muito com outros dois coleguinhas, também mais agitados. Fui então encaminhado para a diretoria.
A vice-diretora atendeu-me e contou, muitos anos depois, que assim que cheguei pediu para eu me sentar e esperar um pouco, pois ela estava ocupada. Ela disse ainda que eu olhava para os lados, mexendo em um bonequinho que ficava preso por uma cordinha entre duas hastes de madeira. Brinquei um pouco com ele, e ela, observando-me, esperava com paciência que eu ficasse mais sereno.
Depois de um tempo, ela chamou-me para conversar. “Você não está conseguindo ser obediente na escola. Você gostaria de saber o que podemos fazer para ser mais obedientes?” Respondi que sim. Ela colocou-me no colo e eu ouvi, com muito interesse, o que ela lia sobre o conceito de obediência no livro “Deficiências e Propensões do Ser Humano”.
— Você acha que consegue aprender a ser obediente?
— Sim, respondi.
— Então, daqui a alguns dias, chamarei você novamente.
A minha mente infantil estava sendo pacientemente cultivada com afeto e bons valores.
Quando fui novamente chamado, eu lhe contei que estava aprendendo a ser mais obediente!
Foi desse modo que, aos poucos, desde a minha infância, pude comprovar que a obediência estava condicionada a princípios de disciplina e de bem, e que ela propiciava uma boa convivência.
Com o tempo, já na juventude, fui compreendendo que a vida não poderia restringir-se às realizações no plano material. Afinal, se fomos criados com mente, inteligência, sentimentos e um espírito de essência eterna, certamente não seria para vivermos apenas em função do trabalho e das diversões.
Esse conhecimento, que transcende o físico, permitia-me avançar aos poucos no caminho da evolução consciente, que envolve os planos psicológico, moral e espiritual. O conhecimento transcendente, ao qual fui apresentado nesse Colégio tão especial e querido, abre um universo de possibilidades que me tem levado a dar um valor real à minha vida, proporcionando também uma maior gratidão e alegria de viver!