Sábado à noite de carnaval, pizza e conversa boa em família, felizes e gratos, quando observei a filha, atenta e preocupada ao celular. Recordei do propósito de “nada de celular à mesa” durante as refeições; e ela:
Mãe, é algo urgente, e estou vendo como vamos agir, pois não dispomos de médico para acompanhar um paciente com Covid, em estado grave, à outra cidade ; e, se não for agora à noite, pode não haver mais leito disponível para ele amanhã… É muito sério, e estão me chamando para acompanha-lo; e tem que ser agora!
Todos nos olhamos, e agora? Primeiro movimento mental, como uma leoa, manifestei: “Acho que não deves ir, quem sabe chamem outro médico; é noite de carnaval: estrada, distância… E argumentei: “E se… E se…”
O esposo, por outro lado, tentando me convencer, argumentou: “E se fosse com um de nós?” E o filho reforçou: “São os ossos do ofício!”
Eu me vi dentro de um ringue: um pensamento de natureza inferior me dizia: “Não vais deixar ela ir, é noite de carnaval!” E como num flash, veio a recordação do grave acidente de trânsito ocorrido há pouco tempo, onde ela ficou 12 intermináveis dias na UTI, e a imaginação veio num piscar de olhos. O pensamento se fortalecendo e me dizendo: “Não e não, ela não vai!”. E esperando que, como num passe de mágica, iriam logo conseguir outra pessoa para acompanhar o paciente.
Todo este turbilhão dentro de mim, e eu num esforço hercúleo de não expressar minha apreensão.
A filha levantou-se da mesa e foi até o quarto; servi a sobremesa, e seguimos conversando acerca de outros assuntos.
Ao recolher a louça da mesa, foi como recolher aquele pensamento do ringue, dando espaço a outro pensamento de ordem superior, que como uma autoridade dizia: “Recorde-se daqueles dias do acidente, quando você estudou, anotou e comprovou que tudo diminui de volume diante da valentia de trocar o temor pelo valor.”
E esse pensamento ainda me dizia firmemente: “O que você está aprendendo desta Ciência e ensinando aos seus filhos que escolheram tão nobre e abnegada profissão?”.
Foi como um bálsamo, e, logo logo, o pensamento superior vencia a luta, como que irradiando luz no meu interno e, consequentemente, no ambiente do lar.
Todos ficamos na expectativa, e, quando a filha saiu do quarto, toda paramentada e decidida a ir, no íntimo de todos nós, silenciosamente, aplaudíamos sua valente decisão.
Senti uma profunda gratidão a Deus e à Ciência Logosófica, que nos ensina dia a dia a realizar o Processo de Evolução Consciente, o qual convido a realizarem. E sabem por quê?
O processo de evolução consciente obedece a um destino prefixado: vencer as limitações da ignorância e da imperfeição, através de uma atitude vigilante a respeito de tudo o que penetra nos domínios da consciência, até abarcar, pela capacitação e esforço progressivos, as mais apreciadas áreas do entendimento. Em suma, a evolução consciente somente se pode verificar sob um rigoroso exame dos pensamentos e atos, com vistas à seleção daquilo que mais favoreça. (Logosofia Ciência e Método, 36-5)