Aos 44 anos de vida, fui questionada por um estudante de 15 anos, que realizava uma pesquisa para um trabalho escolar: “Qual é o seu propósito de vida?”. Vi-me sem uma resposta imediata, no entanto, aceitei participar da pesquisa e me comprometi a enviar a resposta por escrito.

Refletindo, comecei a recordar da adolescente que fui.

  • Quais conceitos eu tinha sobre a vida?
  • O que eu pensava e o que me incomodava em relação ao futuro?
  • O que poderia resgatar daquela adolescente para colaborar com a juventude atual?

Conceitos bem-formados eu ainda não tinha. Isso ficava evidente diante das muitas perguntas e poucas respostas que me satisfaziam:

  • Qual a finalidade da minha vida?
  • Por que sou como sou?
  • Como serei no futuro?
  • Quem eu quero ser?

As inquietantes perguntas, de certo modo, dificultavam a minha compreensão sobre a vida e criavam um dilema na definição de um propósito.

Recordei haver observado alguns pensamentos que circulavam na minha mente em forma de propósitos, os quais me pareciam estar sempre limitados. Por exemplo, a tão sonhada formatura, cuja cerimônia e festa perdurariam por poucas horas. E depois? “Estude e tenha um bom emprego” era o que eu ouvia sempre, e isso me indicava que esse era o propósito dos adultos.

No entanto, inquietava-me pensar em dedicar a maior parte da vida apenas voltada para uma profissão, pois vi pessoas próximas a mim desorientadas quando chegou o momento da aposentadoria. Lembro-me também de exemplos de pessoas que cultivaram o propósito de um “corpo em forma”, dedicando muito tempo e esforço na academia, passando mais tarde pelas dificuldades de aceitar às mudanças corporais próprias do passar do tempo, perdendo a confiança em si mesmas e debilitando-se psicologicamente.

Que possibilidade se pode ter, então, de encaminhar a vida para uma determinada finalidade, se os propósitos vão se diluindo no tempo?

Tendo isso em conta, criei a imagem do equilibrista que caminha na corda bamba, e fiz esta reflexão: o propósito dele é alcançar o outro lado da corda, sem cair. Para este fim, utiliza uma barra que carrega nas mãos para manter o equilíbrio. Agora imaginemos que, se a cada passo do equilibrista, esta barra fosse se reduzindo até sumir completamente, o que poderia ocorrer? Poderia ele perder o equilíbrio ou a confiança no seu caminhar? Conseguiria concluir a trajetória ou pensaria em desistir?

Muitas coisas que vão sendo consideradas como propósitos, na verdade, poderíamos classificar como desejos. E como diferenciar o desejo, aquela vontade por bens e posses, de um propósito que cada um carrega como poderoso estímulo para alcançar o que almeja?

Embora levem a um mesmo ponto — que é a conquista —, diferem entre si por haver no desejo algo mais fugaz, inferior, que logo perde o valor inicial que foi atribuído ou sofre possíveis oscilações da vontade, acabando traído por seus próprios pensamentos, de modo que o ser logo troca um desejo por outro.

Em diferente grau, situa-se o propósito que se forja como um ideal que está identificado com a vida, que responde a uma necessidade interna e que trará inigualável sensação de felicidade e de realização ao ser alcançado.

Não fundamentem, pois, suas aspirações em coisas limitadas, que não conduzem mais que a fugazes momentos de satisfação.” Encontrei este ensinamento na Sabedoria Logosófica, da qual me aproximei já na fase adulta. Descobri na Logosofia uma nova forma de ver a vida e encontrei nela um método que promove o conhecimento de si mesmo, levando-me a buscar e a encontrar as respostas àquelas inquietantes perguntas.

A Logosofia ensina que “quando o ideal é superior, o homem luta, se empenha e se sacrifica por conquistar, dia após dia. Poderá, eventualmente, atrasar o atendimento que esse ideal requer, mas nunca esquecê-lo e, menos ainda, desprezá-lo.

Voltando ao equilibrista, fiz uma analogia para oferecer ao estudante uma imagem que nos mostra que é preciso estabelecer um propósito permanente. Pensei na vida como sendo a corda bamba por onde preciso aprender a caminhar confiante; a barra que levo nas mãos, como sendo o meu propósito permanente, que irá me acompanhar durante toda a trajetória, dando-me segurança, equilíbrio e a certeza de realizar a missão.

Concretizei o meu propósito de vida após encontrar dentro de mim mesma aquilo que verdadeiramente sou e os valores reais da vida que busco alcançar. Por meio dos ensinamentos e do método logosófico, venho conquistando conhecimentos a respeito do funcionamento do sistema psicológico, mental e espiritual do ser humano. Estes conhecimentos, quando aplicados à própria vida, proporcionam um estado interno cada dia mais confiante, equilibrado e entusiasta.

Agora, em tudo que faço e experimento, vejo a oportunidade de me superar, colocando em minhas atitudes maior vigor, compreensão e gratidão. Dessa forma, estava convicta ao encaminhar como resposta ao estudante que o meu propósito de vida é realizar um processo consciente para ser um ser humano melhor, assim como o equilibrista, que caminha sem competir com outros, mas sempre em busca de superar a si mesmo. Tal propósito, longe de limitar-se por qualquer circunstância, irá me guiar e ampliar a vida.