Certa vez eu viajei para um país com cultura bastante diferente. Logo após sair do aeroporto, fui pegar o transporte público que fazia conexão até a estação mais próxima do hotel em que ficaria hospedado. A cidade, uma das mais populosas do mundo, contava com uma extensa e intrincada malha de metrô, que por vezes fazia conexão também com um trem de superfície.

Apesar de ter analisado com antecedência o percurso antes de embarcar, foi num destes vagões que comecei a estranhar o aspecto que as construções e paisagens apresentavam, diferindo bastante do esperado para a região do hotel, localizado no centro da cidade.

Talvez impulsionada pela minha expressão de turista perdido, uma senhora muito solícita não só respondeu minha pergunta sobre a direção adequada como fez questão de me acompanhar até que eu embarcasse no sentido e estação correta do trem. Aquele gesto, além de me inspirar gratidão pelo bem recebido, também me fez refletir que o conhecimento é uma chave se quero ter mais controle e certeza sobre os caminhos que devo tomar ao longo da vida.

Conhecimentos essenciais para a condução da vida

  • Como ampliar o governo sobre minha própria vida?
  • Quais são, de fato, os conhecimentos que devo buscar para evitar os desvios neste percurso?
  • Até onde posso ser levado pela ilusão de que possuo um conhecimento?

Tenho compreendido que esta não é uma tarefa fácil, e que a resposta parte do princípio de que tudo tem origem na mente, envolvendo o conhecimento, cultivo e domínio dos pensamentos.

Esta é uma realidade que cada um pode comprovar internamente, e que também se transporta ao plano dos olhos físicos podendo ser percebida com clareza, uma vez que todas as atuações e decisões nossas e de nossos semelhantes, assim como a materialização de tudo o que existe, são resultado de pensamentos que tiveram sua origem na mente.

Porém, muitas vezes estes pensamentos se movem independente de minha vontade, contrariando propósitos, me fazendo perder tempo com distrações e até promovendo reações negativas com as pessoas que mais gosto. Estas reações internas – tenho aprendido com a Logosofia – são causadas por pensamentos negativos, chamados de deficiências psicológicas. Dentre as muitas que podem compor o quadro mental do ser humano estão, por exemplo, a impaciência, a intolerância, a suscetibilidade e a indiferença, que podem atuar em maior ou em menor proporção no meu mundo interno.

O grande trabalho que tenho procurado realizar é o de ficar atento não só para frear e combater estes pensamentos negativos quando os identifico atuando em mim, mas também o de criar as virtudes que se opõem a eles. Com isso posso ir retomando aos poucos o governo de minha vida, reduzindo os desvios de conduta que as deficiências psicológicas causam em minha atuação comigo mesmo e com meus semelhantes.

Efeito dos pensamentos no comportamento humano

Recordo que certa vez me vi reagindo com um familiar muito querido, por um descuido que ele teve em relação a uma porta com fechamento automático. Resumindo a história, ficamos presos na escada de incêndio do décimo primeiro andar, do lado de fora de nosso próprio apartamento.

Aquela situação promoveu em mim a irritabilidade, a impulsividade e a impaciência, um grupo de deficiências que geralmente atua em conjunto. Conseguimos resolver a circunstância em menos de cinco segundos após a chegada de um chaveiro, mostrando que em realidade se tratava de um problema muito pequeno.

Analisando posteriormente essa experiência, identifiquei que minha conduta não foi acertada. Ao invés de ir em busca da solução para o problema que havia surgido, em minha mente aqueles pensamentos consumiam espaço mental e não me deixavam pensar em outra coisa. Acabei tendo uma reação por não conseguir serenar a mente e mudar meu estado interno naquele momento e, logicamente, não era a conduta que gostaria de ter com alguém tão importante para mim.

Com o estudo logosófico tenho aprendido a conhecer mais sobre meus próprios pensamentos e fazer uso da reflexão, procurando dar às situações seu verdadeiro valor. A temperança, a contenção e a paciência inteligente, virtudes que se opõem às deficiências anteriormente citadas, encontram assim um maior espaço para atuação na mente, fruto de um cultivo que requer atenção e esforço.

Mas mesmo observando resultados felizes e avanços com este exercício, não digo que estou isento de ter reações, porque elas ainda ocorrem e vão ocorrer.

Hoje, porém, já consigo muitas vezes fazer com que elas não sejam externadas e que por vezes até durem menos do que duraram em experiências anteriores.

O objetivo é fazer com que as reações durem apenas o tempo necessário. É um esforço no sentido de conseguir superar as deficiências e ampliar minha responsabilidade em um importante aspecto da vida: a convivência.

Voltando ao relato que fiz no começo, sobre a viagem de metrô com sua extensa malha de percursos, entendo que o conhecimento verdadeiro sobre a minha realidade interna é o grande diferencial que amplia a vida, permite traçar novas rotas com mais segurança, e que me tira da posição de passageiro em um trem de destino incerto para ser então o principal condutor da vida em seus caminhos.