Navi e Ivan são amigos há muito tempo.
Hoje eles se encontraram para conversar um pouco sobre a vida.
Sentados em confortáveis cadeiras na varanda e contemplando o lindo pôr do sol, recordavam vários momentos em que estiveram juntos, quando Navi perguntou:
– Ivan, como está sua vida, especialmente agora que, em função da pandemia, todos estão em casa, você, sua esposa e seus três filhos, trabalhando e convivendo só com a família, pois sei que pouco têm saído de casa.
Ivan lhe responde:
– Eu estou bem, caro amigo, e meu relacionamento com os demais membros da família também está muito bem.
Navi estranhou, pensando que, a princípio, a convivência mais constante entre as pessoas, geraria inevitavelmente maiores atritos e discussões. Naturalmente, quis saber mais:
– Ivan, o que você tem feito para conseguir esta proeza?
– Para responder a essa pergunta, vou contar-lhe uma história:
Normalmente, pela manhã, sou eu quem faz o café em casa. Depois que perdi meu pai, passei a recordá-lo nessa hora, pois, quando o visitava, ele sempre se dispunha a fazer um café para o lanche no final da tarde. Em função dessa recordação, eu passei a sentir gratidão a Deus por ter tido meu pai acompanhando-me até quase minha idade atual. Isso foi um privilégio. E esse agradecimento a Deus passou a ser diário, pois isso me faz bem.
– Isso eu entendo, caro amigo Ivan. O que não entendo é como o que está a me contar se conecta ao bom relacionamento com seus familiares mais próximos.
– Calma, amigo Navi. Tem mais história.
E, com grande prazer, Ivan deu continuidade a sua explicação:
– Como estava manifestando, ao sentir gratidão a Deus pelo pai que tive e que muito me ajudou na minha vida, vi que não seria justo se não agradecesse a outras pessoas que também me fizeram o bem ou me proporcionaram momentos felizes. Passei, então, a recordar de minha mãe, que está adoentada e dando um lindo exemplo de luta pela vida, além de outros exemplos que sempre me ofereceu; passei a agradecer à família que tive durante minha infância, juventude e parte da vida adulta – meus pais, irmãos, tios, primos, avós e amigos – por tudo que eles representaram para mim, sendo que muitos deles já não estão mais vivos; passei também a agradecer a minha esposa e a meus filhos, que compõem a minha família hoje e constituem o meu lar.
E, nessa sequência de recordações, lembrei de um grande amigo que me apresentou uma ciência, chamada Logosofia, que muito me ajudou e tem ajudado a conduzir minha vida com acerto e sabedoria, o que me levou a agradecer também ao criador desta ciência por todos os elementos que me vem ensinando e por mostrar-me a existência do meu próprio espírito e sua importância na minha vida.
– Está bem, disse Navi. Agora entendo a gratidão que você tem a sua família. Mas como isso se transformou em um bom relacionamento com ela, ainda não entendo.
– Já vai entender, disse-lhe Ivan, sorrindo. Eu lhe falei em agradecer ao bem recebido e aos momentos felizes, mas também sou grato aos momentos difíceis vividos, pois deles pude extrair lições de vida, como, por exemplo, ser grato aos médicos que me ajudaram a superar uma doença que poderia ter tido sérias consequências para minha vida e, novamente, ser grato a minha família, que muito me ajudou a superar a fase da recuperação da cirurgia. Você se lembra disso, não?
Navi respondeu:
– Sim, eu me lembro bem. Mas como isso lhe tem permitido alcançar um relacionamento mais tranquilo? Já ouvi falar muito sobre a gratidão, mas isso parece mais uma espécie de mantra. Afinal, as pessoas a quem você diz ser grato não sabem que você está manifestando esse sentimento por elas, e talvez Deus não esteja escutando todas essas manifestações de gratidão. Afinal, qual seria o objetivo de manifestar gratidão? Seria atrair a atenção de Deus, buscando contar com seu apoio em futuros momentos de dificuldade ou sofrimento?
Ivan, calma e pacientemente, explicou ao amigo:
– Não, meu caro amigo. Não estou pensando em me valer disso para futuros momentos em que eu vá buscar Deus e sei que as pessoas às quais manifesto gratidão não sabem disso. No entanto, a gratidão manifestada diariamente é um sentimento muito forte, que inunda a minha mente e o meu coração, como se fossem grandes ondas de ternura e suavidade. Estas ondas têm o poder de elevar este sentimento a um nível superior, onde os pensamentos comuns de contrariedades e reações não chegam, ficando,assim, impossibilitados de se manifestar. Daí a convivência tranquila que vinha tendo com os meus familiares mais próximos em todos os momentos.
E toda vez que algum pensamento de contrariedade ou reação faz força para superar esta onda, surge imediatamente em minha mente a recordação de um momento feliz vivido com aquele familiar e, desta forma, a onda de gratidão fica mais forte e suplanta, de vez, as reações. Ou seja, a gratidão faz bem para mim. Por isso interessa-me muito manifestá-la, pois o maior beneficiário sou eu mesmo. Além do mais, essa onda de sentimento me conecta ao Criador de forma espontânea e isenta de qualquer sombra de religiosidade, pois este é o conhecimento essencial e puro do Pensamento Universal. Esse é o tamanho e o poder de ação de um sentimento. Inclusive – disse Ivan, enfatizando ao amigo – também sou grato a você, meu grande e melhor amigo, por suas ajudas tão oportunas nos vários momentos da minha vida.
Navi, comovido, agradeceu a Ivan pela nova visão que este lhe passara sobre a gratidão como um sentimento que beneficia aquele que a manifesta e não a quem ou a que ela é dirigida. E concluiu:
– Esta é realmente uma nova forma de sentir e conceber a vida, querido amigo, na qual os benefícios para a vida justificam o cultivo diário deste sentimento. Vou refletir como posso me beneficiar também deste sentimento de gratidão, disse ao finalizar este assunto.