Você viu como esse ano passou depressa? Não tenho tempo pra nada… O final do ano já está aí… Puxa, o tempo está voando mesmo! Nem vimos o tempo passar.

Estava eu na sala de espera de um consultório, e uma senhora, que ali também aguardava, iniciou uma conversa justamente com essas indagações. Ao contrário de lhe responder automaticamente, mantive-me calada por eternos segundos, reparando na recorrência sazonal dessas perguntas. Sai ano, entra ano, costumo escutar essas declarações por aí.

Resolvi tentar identificar alguma razão para isso e me ocorreu que, às vésperas de terminar mais um ano, costumamos mirar no pouco tempo que falta, ao contrário de nos determos em todo o período vivido naquele ano.

Por que tanta pressa em viver? Aqueles que querem acelerar as horas são os mesmos que se veem sem saber como as preencher, quando chega a época de pisarmos sobre nossas próprias folhas secas. Como seremos capazes de preencher nossas horas, quando o corpo físico já nos der claros sinais de cansaço ou desalento?

Cada ser humano deveria, por sua espetacular natureza, ser capaz de registrar em seu reloginho interno, tudo o que vive na sua vida, alimentando sua consciência dos elementos constitutivos de suas atuações. Não seria essa uma forma de se imprimir verdadeiro valor à vida, carregando de importância e significado os momentos que vivemos? Quem, recordando tudo o que vive e buscando nisso a força e o estímulo para se superar sempre, a cada instante, ousaria se lamentar de que o tempo passou rápido demais para si, ou que não teve o tempo suficiente para isso ou aquilo?

A pressa do adulto e a leveza da infância

Muitas das nossas queixas e reclamações expõem de forma indiscreta e contundente aquilo em que poderíamos nos focar e nos transformar, cuidando para cambiar o malsão pelo bem e o depreciável pelo bom. A vida é um livro que recebemos com páginas em branco, nas quais devemos escrever nossa história, ao mesmo tempo em que aprendemos a lê-la. Temos muito tempo para nos dedicarmos a isso, juntamente com o esforço e dedicação que procuramos ter com as outras vidas que temos, como a familiar e a profissional.

Outra reflexão que me veio à mente foi a constatação de que, quando criança, os dias eram longos, o ano demorava a acabar, as férias custavam a chegar. A juventude estava tão distante que alguém de vinte e poucos anos já era velho. Onde podemos perceber a diferença? O tempo, para a criança, é muito mais dilatado que para o adulto; ela vive a vida com maior intensidade e também com mais leveza.

Relembro aqui o humanista González Pecotche, criador da Logosofia, para quem

a vida não deve terminar como terminam as horas do dia, agonizando em um entardecer. A vida tem que ampliar seus horizontes; tornar longas as horas da existência para que o espírito, encarnado na matéria, experimente a grandiosidade de sua criação. Para isso tem que se renovar no passado e no futuro. No passado, reproduzindo constantemente na tela mental todas as passagens vividas com maior intensidade; no futuro, pensando no que ainda resta por fazer, no que se pensou fazer e, sobretudo, no que se quer ser nesse futuro. E quanto mais gratidão experimente o homem pelo passado, quanto mais gratidão guarde pelas horas felizes vividas nele, assim como pelas de luta e de dor, que sempre são instrutivas, tanto mais se abrirá sua vida a novas e maiores perspectivas de realização.