Aulas na faculdade, projeto de extensão, iniciação científica, estudo à parte, esportes, vida familiar, vida social — e uma infinidade de afazeres, minuto a minuto! Eu vivia com a sensação de estar sendo sufocado pelos compromissos e tarefas diárias, numa corrida contra os ponteiros do relógio.

A tentativa de equilibrar os diversos campos da vida sempre concorrendo com a injustificada falta de tempo. Eu só queria algumas horas a mais no dia para conseguir atender a tudo isso. Mas, pensando bem, ter mais horas livres seria o suficiente? Se eu as tivesse, saberia fazer bom uso delas?

Com a pandemia, uma série de atividades da rotina diária foram interrompidas. Apesar de a realidade mundial ser desalentadora, acabei sendo beneficiado com algumas horas livres. Após um período de adaptação à nova realidade que o isolamento social impôs, comecei a pensar em alguma forma de melhor aproveitar esse tempo a meu favor.

Surgiram inúmeras ideias: já me antevendo sair do isolamento tendo lido 15 livros, feito 10 cursos online e falando inglês fluentemente. Super empolgado, dei início a algumas atividades. Os dias passaram e, ao final de vários deles, sobreveio a sensação de improdutividade, de não ter conseguido realizar o que havia me proposto fazer. Uma coisa era certa: sem correria, sem trânsito e com tempo de sobra, tudo dependia única e exclusivamente de mim. Então, qual era o problema?

Percebi que havia algo dentro de mim, e não fora, que me impedia de ter um bom aproveitamento do tempo: os pensamentos. Ao acordar, já me vinha o pensamento da preguiça para ficar alguns minutos a mais na cama. Muitas vezes cedia à tentação, voltando a dormir e, horas depois, acordava desatinado, prejudicando o meu ânimo e disposição para viver.

Vez por outra, ao concluir alguma atividade, iniciava o diálogo interno: “o que eu faço agora?”. De pronto, o pensamento da postergação se pronunciava: “Você merece um descanso, depois estuda isso” ou “deixa isso para depois!” E, assim, minha vontade se rendia, cedendo à voz mansa e sorrateira que ecoava dentro da mente. E eu ficava entregue ao ócio horas a fio, ao bel prazer desses pensamentos, verdadeiros devoradores do tempo, sem ter feito o que realmente queria.

A Logosofia me apresenta o conceito de pensamentos como entidades animadas autônomas, com vida própria, que podem passar num instante de uma mente para outra, podendo exercer suas vontades sobre mim. Era exatamente o que eu sentia.

Eu não detinha o comando de minha própria vida, pois estava à mercê da vontade dos pensamentos negativos e contrários ao meu propósito de superação e aprimoramento. Sentia-me ora pressionado, ora seduzido, ora vencido, sobrevindo um grande arrependimento e descontentamento.

Foi então que despertei para o real valor do tempo. Para a Logosofia, tempo é vida. Se o tempo se perde, o mesmo acontece com a vida. E o tempo se perde quando vivo de forma inconsciente, quando não sei por que nem para que estou fazendo isso ou aquilo, quando deixo de expressar e realizar minha verdadeira vontade.

Então, era hora de agir! Primeiro passo para aproveitar melhor o meu tempo foi planejar meu dia. A sabedoria logosófica ensina a importância do planejamento consciente do dia. O segredo está no preparo antecipado. Sempre ao me deitar, devo pensar no amanhã e nos estímulos internos para viver o dia seguinte.

Desta forma, impedia aqueles diálogos com os pensamentos indesejáveis, pois já estava pensado e definido o que tinha que fazer em cada momento seguinte. Mas, ao colocar esse planejamento em prática, identifiquei a resistência do pensamento da preguiça, convidando-me a continuar na cama. A minha atenção acionou o alerta e, ciente de que tudo que faço é motivo de ampla análise, detectei a forma como esse pensamento atuava.

Pensando na estratégia para vencê-lo, estabeleci o propósito de acordar no primeiro toque do despertador, grande desafio para quem inúmeras vezes apertava o botão soneca. Estabeleci a meta de fazer isso por 30 dias. Não foi fácil … Utilizei o exercício de dormir pensando no dia seguinte e, ao fazer isso, quando eu acordava, meu primeiro pensamento era o de me levantar. Para me auxiliar ainda mais, colocava o celular longe da cama.

Dessa forma, esse simples objetivo de acordar na hora estabelecida ganhou grande importância. Meus dias mudaram completamente, eu acordava estimulado e pronto para fazer as atividades, conseguindo de fato colocar em prática o que havia planejado.

Para alcançar equilíbrio nos diversos campos da vida é necessário conquistar o tempo, e ele é ganho quando vivido de forma consciente. Isso significa assumir o comando da própria vida e não deixar que pensamentos burlões, negativos e sabotadores exerçam pressão sobre os pensamentos que destoam do meu propósito. Viver de forma consciente é aproveitar cada momento, sabendo o objetivo de se estar fazendo isso ou aquilo. Não é a quantidade de horas livres que eu tenho o que determina meu tempo ganho, e sim a maneira como as empregar em cada instante vivido.