Sempre tive disposição para colaborar e recordo de sempre ter estado disposta a participar de todas as atividades escolares. Levei esta característica para a adolescência e juventude. Até hoje digo sim para muitas coisas, depois tenho que dar conta de cumprir tudo aquilo que assumi. Com os estudos logosóficos, consegui melhorar este aspecto. Mas essa disposição não seria uma virtude? Por que, então, teria eu de melhorá-la?
Recordando minha trajetória e com o conhecimento a que hoje tenho acesso, percebo que, ao mesmo tempo em que eu tinha muita pré-disposição para colaborar com as pessoas, não dava oportunidade para que as pessoas à minha volta também desenvolvessem essa virtude. Isto deixou de ser uma virtude quando, em vez de os estimular a darem sua contribuição no trabalho, eu, com minha natureza extrovertida, passava a fazer tudo por eles, deixando-os “livres”. Achava que, ao me oferecer para fazer a apresentação, estava ajudando os colegas, quando na verdade estava colaborando para acentuar neles a timidez e a falta de vontade. Somente agora reflito sobre isso.
Ah! Mas isso foi na infância!
Contudo, ainda hoje observo essa característica em vários momentos da vida, quando privo os demais da oportunidade de colaborar. Muitas vezes até reclamo que ninguém me ajuda, mas logo em seguida estou lá, fazendo do meu jeito, rápido, porque se deixar não vai sair como eu gostaria. Isto impede que outros possam capacitar-se, ganhar ritmo e destreza. E, principalmente, consigam superar-se.
Mas, qual seria o meu desafio? Praticar a contenção! Permitir aos que estão ao meu lado a oportunidade de evoluir, de se bastar, de exercer seu papel na família, no trabalho, junto às amizades, com independência.
Hoje sei que uma grande virtude, quando não é usada de maneira consciente, pode deixar de ser uma virtude. Em inúmeras ocasiões sou chamada por minha filha para resolver situações que ela criou; às vezes ela nem pede, mas eu já vou e faço por conta própria. Isto cria uma dependência que, antes de conhecer a Logosofia, eu julgava que fosse muita boa. O desafio é ensinar o outro a ser independente, deixar fazer à sua maneira, orientar, ter a paciência inteligente de explicar e finalmente esperar sua atuação.
Por onde começar? Por conhecer a mim mesma, identificando minhas virtudes e deficiências. Fazendo da minha vida um campo experimental e buscando compreender por que não faz sentido fazer para os outros aquilo que eles mesmos deveriam realizar, para que possam bastar-se a si mesmos e evoluir.
Cada movimento do pensamento deve ser sempre uma fiel expressão da reflexão. Que não sejam os pensamentos estranhos os que dominem a razão, anulando a privilegiada função de pensar. Que seja o homem, com o domínio pleno de suas faculdades, quem haja de discernir com consciência sobre seu presente e seu futuro, para que nada fique à mercê do acaso (…)CRL-III 235/1