Abril de 2020. Temperaturas amenas e chuvas ocasionais. O outono já se instalou lá fora, mas continuamos observando-o através de nossas janelas. Não são todos os que guardam a quarentena; muitos, pela natureza de seus trabalhos, essenciais à vida da nossa sociedade, continuam saindo de suas casas.
Outros tantos, como eu, estrearam na modalidade de home office, além de terem adicionado à sua responsabilidade a execução de tarefas caseiras, muitas das quais antes delegadas a outros.
À uma primeira e rápida observação, podia-se achar que estávamos atados a um feitiço do tempo, como no filme do mesmo nome, pois as atividades se repetem incessantemente, renovando-se cada vez que o sol desponta. Mas como temos a capacidade de nos adaptar!
Fui observando que ainda que pudesse diluir todo o trabalho igualitariamente em todos os dias, era saudável que imprimisse uma rotina, ainda que não rígida, no planejamento: hora da atividade profissional, das refeições com a família, das atividades domésticas, hora do lazer ou do descanso. Essa continuidade é prazerosa, e mais uma vez constato que a origem da organização é mental.
Como o tempo se multiplicou! Não reagir ou insurgir contra as circunstâncias necessárias da vida pode nos tornar mais maleáveis, e, consequentemente, mais felizes.
Podemos fazer da adaptação um poder para nos transformar, para deixar para trás algo que não nos convém mais ou nos traga desconforto, ou ainda nos exponha a um perigo, como, por exemplo, o contágio de uma doença.
O distanciamento social pode induzir naturalmente ao agravamento de angústias ou problemas de toda ordem, e a exposição ao novo vírus pode acarretar a perda de entes queridos, e outras graves situações. Estamos todos expostos a esse risco, e precisamos aprender a conviver, a suportar …, e a nos cuidar.
Um dia desses, ouvi alguém famoso dizer numa das redes sociais que, não importa o quanto durasse esta pandemia, não teria tempo para arrumar tudo o que queria. Pareceu-me que se referia às arrumações caseiras, mas, e quanto às demais atividades?
Descobri nesta quarentena que, apesar da sobrecarga das atividades usuais, como a atividade profissional e as domésticas, há muita coisa que gostaria de retomar e outras tantas que gostaria de iniciar! Na minha realidade, tem dado tempo, pelo menos em parte. Retomar determinado hobby, como a fotografia, por exemplo.
Se não dá para sair por aí, é possível tirar umas fotos dentro de casa, ou se deleitar com as fotos antigas. Testar uma ou outra receita selecionada há tempos, mas não experimentada pela falta de incursão sistemática na cozinha anteriormente, também é muito bom! Assim também achar uns minutos para refletir e escrever algo, como faço neste exato momento.
O tempo é um mistério, que, segundo a Logosofia, faz dobrar os joelhos dos homens. Quem não se intriga com esse enigma, não se sente atraído por ele ou não almejaria desvendá-lo? Os grandes conhecimentos da vida, porém, não se mostram simplesmente aos que são curiosos. Há que buscar adquiri-los, e, depois, aplicá-los à própria vida.
Quero aprender sobre o tempo? Preciso ser sua amiga, me antecipar a ele, e elevá-lo à sua real condição. Para a Logosofia, tempo é sinônimo de vida! Do contrário, no correr dos ponteiros do relógio, das horas e dos dias, e passada a quarentena, corro o risco de, tendo desprezado a oportunidade com que o tempo me presenteou agora, retornar à trivialidade do cotidiano, e de retomar minha vida tal qual era antes do isolamento social.
Como afirma Pecotche no livro Mecanismo da Vida Consciente, “a consciência deve ser enriquecida pelo homem com os conhecimentos que tendam ao seu aperfeiçoamento e o capacitem para cumprir a alta finalidade humana, que é a posse dos grandes segredos que envolvem e interpenetram sua prodigiosa existência sobre a Terra.”