Outro dia, fazendo um trajeto a pé, deparei-me com uma jovem mãe, com dois filhinhos gêmeos, que deviam ter uns dois anos de idade, a julgar pela estatura e pelo jeitinho próprio dessa faixa etária. Mas o que havia de tão diferente na cena? Aos olhos de muitos, nada: as crianças andavam, paravam, pegavam folhinhas no chão, corriam atrás de uns pombinhos que ciscavam na calçada, riam, olhavam para a mãe e, balbuciando algumas sílabas, trocavam olhares e risadinhas. A mãe ora abaixava-se e mostrava aos menininhos como os pombos mexiam a cabeça, mostrava-lhes as sementinhas que as aves comiam, como as folhas estavam secas, como as penas das aves eram de cores diferentes e ora ficava apenas observando seus filhinhos com um sorriso no rosto.

Passei por aquelas pessoas, segui meu caminho e me vi, também, sorrindo. Imediatamente me fiz a seguinte pergunta: “Por que você está sorrindo?”

A cena que observei e a pergunta que me fiz têm relação direta com o meu estado interno daquele momento. Poderia ter passado por aquilo no automático (como já devo ter feito infinitas vezes), sem me dar conta de todos os detalhes que captei. Poderia ter seguido meu caminho, sem nem ao menos recordar que dividi a mesma calçada com aquelas pessoas. Mas o meu estado interno me permitiu outra vivência.

Minha sensibilidade capturou a beleza, a doçura, a simplicidade, a paciência daquela mãe, o brilho nos olhinhos daqueles dois menininhos que estavam aprendendo coisinhas novas. Meu estado interno estava propício. Propício a quê?

Por meio da sensibilidade, que para a Logosofia funciona como um radar, naquele momento, consegui captar aquelas imagens e experimentar sensações puras, simples, que encheram meu espírito de alegria e me fizeram continuar meu caminho com um sorriso no rosto.

A sensibilidade, para funcionar bem, precisa de ambiente, de sinais, de atenção, de paz. Ela desperta e se manifesta com maior plenitude nas pessoas que estão em busca de serem melhores, e pode suprir a razão, revelando coisas que esta última demora a compreender.

Cada um de nós, seres humanos, temos uma psicologia diferente da outra, e isso é bom e natural. A sensibilidade também manifesta e reage de maneira diferente em cada um. Para a Logosofia,

o complexo psicológico é diferente em todos os seres, e essa é a causa de a sensibilidade não se manifestar sempre da mesma maneira, com a mesma intensidade ou reagindo do mesmo modo.

Enfim, andando pelas ruas, cozinhando, dirigindo, lendo, estudando, passeando, trabalhando, preciso dar mais oportunidades à sensibilidade, oferecer a ela cenas como a que vi na minha caminhada e conhecimentos para que eu possa me aperfeiçoar. Devo ter aspirações sadias e superar-me mentalmente para minha razão estar em condições de aceitar o que a sensibilidade indica; assim, não só vou perceber mais as verdades, as belezas, mas também serei uma pessoa mais feliz e, certamente, com mais sorrisos no rosto.