Numa tarde de domingo, aquele pacato cidadão, homem de reconhecida boa índole, dirigia seu veículo da forma costumeira, sempre tranquila e serena, levando a família num feliz passeio. Tudo ia bem, até que um outro veículo, em alta velocidade, faz uma brusca manobra e lhe intercepta o carro, quase provocando um acidente. De pronto ele se vê tomado por uma reação incontrolável, uma força interior que o move a acelerar seu veículo e a perseguir o outro.
O que ocorreu? Ocorreu que um pensamento de impulsividade fez com que aquele manso cidadão reagisse, numa resposta intensa à violência manifestada pelo outro, com consequências imprevisíveis para ele e para seus familiares. Passado o mau momento, ele se deu conta, pesaroso, de que agira contra a própria vontade.
É frequente ouvirmos alguém justificar uma atitude extrema, um ato impulsivo, dizendo que estava fora de si quando agiu dessa ou daquela forma. Tem a sensação de que algo o moveu a atuar fora de controle, sem expressar sua verdadeira vontade.
O que estaria por detrás dessa e de todas as ações humanas, boas ou más? E por detrás dos gestos, das palavras, das atitudes de forma geral? O que move um ser a fazer algo que não é exatamente o que ele quer?
A Logosofia afirma que são os pensamentos, entidades autônomas geradas na mente humana, e onde podem chegar a adquirir vida própria. No episódio narrado, já com os nervos mais calmos, a expressão fisionômica daquele pai de família deixava entrever as marcas do vendaval que lhe varrera a alma. Uma sensação de culpa e desconsolo lhe havia ficado como inarredável saldo.
O ser humano somente poderá afirmar ser dono de sua vontade quando dominar seus pensamentos. Caso contrário, será sempre um joguete nas mãos dessas entidades psicológicas. Conhecer tal realidade é abrir uma enorme perspectiva para a vida humana: a de aprender a dominar o pensamento, quando negativo, enquanto este se encontra em estado mental, ainda não manifestado, evitando assim a infelicidade de uma atitude equivocada, de uma palavra destrutiva, de um comportamento inconsequente.
Dentre as muitas formas de expressão de um pensamento, impressionam as que se estampam na fisionomia humana. O ser mostra em sua fisionomia o que traz dentro de si, seu estado interno, seus pensamentos e sentimentos… Mesmo que disfarce, não escapará a um atento e arguto observador o pensamento que está em sua mente, a sua intenção.
O que se pode ler nos olhos de uma mãe, quando fala de seus filhos? Ou na fisionomia de um jovem ao passar no vestibular? Ou na de alguém que por fim se vê na companhia de quem tanto ama? Ou, ainda, na de um filho que reencontra os pais depois de longo tempo de involuntária ausência?…
Pela fisionomia humana temos acesso a uma das formas mais sublimes de manifestação da linguagem do Criador, pois ela é a expressão externa de um mundo interior maravilhoso, um mundo que pertence a todos os seres humanos. Um mundo que dá sentido à vida, que permite que brotem, no mais fundo dos seres, pensamentos e sentimentos da maior nobreza e transcendência. Conhecer e dominar esse mundo interior significa dominar a própria vontade e edificar uma vida melhor e mais feliz. Como tudo mais, essa felicidade certamente ficará estampada na fisionomia daqueles que conseguiram conquistá-la, tornando-se um exemplo para os seus semelhantes.