Desde a minha infância tenho contato rotineiro com a ciência logosófica. Entendo que os conceitos e ensinamentos dados pelo autor dessa ciência tiveram uma influência profunda para forjar as bases do ser humano que sou hoje. A Logosofia serviu de bússola para inúmeros momentos fundamentais, e me ajudou a governar minha própria vida seguindo um processo de evolução consciente.

Estou sedimentando conhecimentos valiosos, especialmente aqueles relacionados à colaboração, amizade, valentia e defesas mentais. Agora percebo como esses conceitos ajudaram a entender minha conduta em diversas situações, nas quais busquei conscientemente tomar decisões com coerência e sintonia com aquele mundo interno em processo de construção, com minha individualidade.

No entanto, com o tempo observei que apenas conhecer a realidade dos pensamentos e ser capaz de observar os movimentos do mundo interno, por mais importante que fosse, era insuficiente. Dar passos firmes em direção ao processo evolutivo significava também agir, interferir na realidade para dar expressão aos valores conquistados.

Uma valiosa representação individual

Vivenciei uma experiência interessante, certa vez, no primeiro ano do Ensino Médio. Tratava-se de uma atividade desenvolvida na aula de artes, a qual consistia da produção de um busto em argila. Recordo-me sobre o quão grato foi impregnar aquele material com aquilo que seria meu conceito de ser humano e seus altos valores. Busquei fazer uma imagem que, na medida do possível, atingisse esse ideal. Obviamente, ficou um pouco tosco, longe daquela imagem perfeita que havia se formado no mundo mental.

Ainda assim, naquela pequena obra de arte, havia traços desse ideal, e seu significado agora transcendia em grande medida o bloco de argila encontrado no início. Aquela peça, de certa forma, encarnava em si uma parte da minha individualidade. Todas as produções foram então levadas ao forno para que a argila ficasse firme e não se deformasse.

Algum tempo depois, no último dia de aula, fomos todos buscar as peças para levá-las para casa. Eis que um grupo de colegas, guiado por pensamentos questionáveis, começa a quebrar as esculturas que os mesmos produziram, no canteiro central da rua em frente ao colégio , estimulando os demais a fazerem o mesmo.

A euforia desencadeada pelo início das férias colaborou para criar um ambiente de muita inconsciência. Em meio a esse clima destrutivo, sem pensar muito, totalmente inconsciente, deixei que pegassem a minha escultura e a quebrassem também. Somente naquele momento percebi o erro. E já não havia mais volta. Várias vezes pensei sobre aquela situação, com bastante arrependimento.

Essa experiência mostrou com clareza como há forças potencialmente erosivas no mundo, regidas por entidades de natureza metafísica, mental: os pensamentos. Tais forças, muitas vezes aleatórias e caóticas, outras vezes organizadas em ideologias e imposturas, podem eventualmente tentar ruir aquilo que conquistamos e construímos.

A responsabilidade de proteger essas conquistas e os valores que as edificaram é essencialmente do indivíduo que lhes deu vida. Compreendo que a omissão dessa defesa rechaça o espírito e a individualidade à escuridão da inconsciência. Seria essa uma forma de ingratidão aos momentos de alegria que calorosamente envolvem as horas de concentração e expressão criativa?

Guiado pelos conhecimentos derivados de experiências como essa, trabalhei com maior afinco e intensidade para forjar uma estrutura interna mais forte, que não apenas se mantivesse íntegra aos ventos do mundo externo, mas que também pudesse interferir nele positivamente, com condutas de exceção. Com isso, surgiram novas e conscientes vivências.

Quando o indivíduo colabora com o coletivo

Durante o ano de 2015 tive a oportunidade de participar de um intercâmbio acadêmico em outro país. Essa experiência foi desafiadora e construtiva, porque pela primeira vez experimentei os poderes e responsabilidades de uma vida mais independente. Nesse contexto, fiz novas amizades e me reuni com outros estudantes para alugarmos uma casa próximo à universidade. Como as pessoas ainda não se conheciam muito bem, o ambiente no início ficava travado, reinava um pouco o egoísmo e algumas brigas bobas começaram a surgir. Vi ali a necessidade de tentar mudar o rumo para onde os ânimos estavam seguindo.

Recordo-me que certo fim de semana todos os colegas de república estavam fora durante o domingo e só retornariam muito tarde. Eu, por outro lado, estava em outra atividade e também chegaria tarde esse dia. Fui o primeiro a voltar. Bastante cansado, lanchei qualquer coisa rapidamente e fui dormir.

Mas no caminho para o quarto, percebi uma força que me fez parar e refletir, um pensamento oportuno e positivo. Havia um pouco de preguiça atrapalhando, mas quanto mais eu pensava mais aumentava a decisão. Meus colegas chegariam tarde, muito cansados e famintos. Certamente, devido ao horário e por ser domingo não haveria opção de estabelecimentos abertos nas redondezas para uma refeição. Por que não preparar um jantar para todos? Dito e feito, ou melhor, pensado e feito.

Quando eles chegaram foi muito intensa e grata a surpresa com o jantar que os esperava. Todos ficaram inicialmente incrédulos, e depois muito felizes e impressionados com aquele gesto simples e deliberado, que expressava sincero desejo de somar bons pensamentos no ambiente.

Desde então o clima na casa mudou, e todos passaram a cultivar com mais força a colaboração. Apesar dos horários distintos, criamos o hábito de eventualmente realizarmos refeições em conjunto.

Com essa experiência, constatei como fui capaz de mudar o ambiente por meio do controle dos pensamentos, e, por essa conquista, senti gratidão aos conhecimentos adquiridos com o estudo de Logosofia, que a cada dia, me permite dar passos mais firmes rumo ao governo da minha própria vida.