Optei por ser professora para mudar o mundo! Quando me dei conta de que, ajudando uma criança a ser melhor, eu estaria colaborando com o mundo, colaborando para que no futuro houvesse um adulto melhor, eu deixei a minha antiga profissão para cursar pedagogia e ser uma agente de transformação ativa. Senti a alegria de ser valente na busca de ser feliz.
Nesses anos em sala de aula, pude viver inúmeras experiências que reafirmaram minha escolha. Como professora numa turma de cinco anos, observei, em uma das meninas, a expressão fechada e o ar de desafio com que costumava encarar as docentes após ser repreendida. Ela já havia estado em situações como aquela muitas vezes, e fiquei refletindo sobre o que eu poderia oferecer de novidade como estímulo à sua docilidade escondida. Perguntei o que aconteceu, e ela me disse que havia desobedecido a outra professora. Questionei-a sobre o motivo da desobediência, e ela se mostrou confusa.
Esse corriqueiro fato escolar ilustra bem o que a Logosofia apresenta sobre os pensamentos. Para a ciência logosófica, pensamentos são entidades autônomas e que, por algumas vezes, atuam à margem de nossa vontade; com os conhecimentos adequados, porém, é possível controlá-los e sermos donos de nossa vida.
No caso da minha aluna, queria que ela enxergasse isso. Apresentei-lhe uma imagem analógica: a mente como um campo de batalha e os pensamentos como soldados — alguns amigos, outros inimigos. Mostrei-lhe que cabia a ela a escolha, e que, quanto mais exercitasse os pensamentos do bem, mais fortes eles ficariam. Aproveitei e dei exemplos de lutas que ela vivia no seu cotidiano. Combinamos que eu iria ajudá-la, que ia sempre torcer para o bem. Mas que também continuaria sendo firme contra os pensamentos que lhe faziam mal. Combinamos que ela poderia me procurar todas às vezes que esses pensamentos quisessem vencer. Pouco tempo depois ela me procurou:
– Profª., sabe aquela porta lá, no fundo, que não é para aluno entrar? Quase que eu entrei nela, mas não
entrei!
– E quem ganhou?
– Os pensamentos de bem!
Ela começou a pular, demonstrando alegria. No final do dia, ela me procurou e disse:
Será que você pode me lembrar dessas coisas nos outros dias?
E a experiência continuou. Ela se mostrou mais dócil às correções, bastando perguntar a ela quem estava ganhando para ela se controlar. Vi suas amigas copiando o bom exemplo e ficando mais tranquilas e obedientes.
O final do ano chegou, e ela mudaria de escola. Chamei-a a sós e disse-lhe que nós duas tínhamos uma missão importante: contar às outras crianças o que ela havia aprendido. Aproveitei para falar que, quando a gente recebe um bem ou aprende algo muito importante, não pode ficar com isso só para a gente. Ela sugeriu que a gente escrevesse. Eu perguntei como ia se chamar a história e ela respondeu: Batalha de Amor da J. Fui fazendo perguntas, e ela contando a história, e, no final, ficou assim:
A mente da J. tem alguns meninos e meninas que batalham pelo amor e pela raiva.
Os pensamentos é que batalham.
Quando o pensamento ruim ganha, a J. faz coisas ruins como bater, morder e desobedecer. Quando o bom ganha, a J. só faz coisas boas como carinho, novos amigos e obedecer. E fazer gracinha e ficar feliz.
Para ganhar, o bem tem que lutar. O mal às vezes ganha, e, para consertar, tem que lembrar de fazer coisas boas. Eu vou lembrar-me sempre dessa luta, para eu não fazer coisa errada, e fazer coisas boas.
Ajudei a J. a descobrir que dentro dela existem forças que podem ir contra ou a seu favor, e que ela tem o poder de controlá-las, desde que se esforce para isso. J. me ajudou a estar mais atenta a isso dentro de mim, pois essas também são as minhas lutas. Depois disso, ambas saímos melhores do que éramos.