Mesmo depois de ouvir bem próxima a exclamação sobre como a manhã estava bonita e quão azul estava o céu, segui a leitura de um livro de cujas páginas acabara de retirar um marcador.

Querendo recordar por que havia marcado a página, encontrei nela o trecho em que o autor afirmava: “… ao tomar contato com o ensinamento logosófico, a maioria das pessoas – quase sem exceção – não pode manifestar com exatidão seus verdadeiros anelos, suas reais aspirações; eu não me preocupo em investigá-las, pois isso é secundário. Há algo mais importante que as aspirações e os anelos: é o trabalho que cada um deve realizar dentro de sua mente, para alcançar as mais amplas e positivas compreensões”.

O tempo gasto na leitura foi o mesmo para ouvir, agora, o convite que minha esposa fazia para acompanhá-la a uma clínica próxima, na qual faria exame para renovação de sua carteira de motorista. Sem encontrar nenhuma razão para não a acompanhar, naquela manhã exuberante, senão a do pensamento de resistir a uma aborrecida espera na recepção de uma clínica, retardei a resposta. Mas o eco do último trecho lido no livro já guardado “… o trabalho que cada um deve realizar dentro de sua mente…” me fez aceitar o convite, pois vi nele a oportunidade de me contrapor ao pensamento que se opunha ao movimento!

Realmente era um dia belíssimo! Já chegando ao local, vendo vagas no estacionamento, observo a frustração do pensamento de queixa, que dentro de minha mente espreitava a chance de agir! Assim, no primeiro round, foi fácil contê-lo “dentro de minha mente”. Na sala de espera, quase vazia, e depois de um caloroso “bom dia!” da atendente, o pensamento tampouco encontrava a chance de ressurgir.

Mal sentamos e a simpática atendente, com diligência jovial, explicava como o processo se daria, informando que documentos seriam preenchidos e alertando que a foto exigida não poderia ser a mesma do documento que vencia. Acrescentou outras informações que, percebi, tinham a função de prevenir reclamações.

Devia ter aprendido isso pela prática de sua função, sem, no entanto, ter clareza de que, na luta dos pensamentos dentro da mente, aquele que esgrime com maior destreza e maior rapidez é o que ultrapassa a razão e toma a direção da mente. Bem, essa era a orientação que eu usava naquela experiência.

O fato de deixar por último o anúncio de que o médico estava atrasado, mas que não demoraria muito a chegar, talvez fosse também uma medida que, intuitivamente, a moça tinha aprendido ser a melhor estratégia.

Aos poucos outros foram chegando e, com eles, se repetiam as instruções da atendente, a ponto de ficarem familiares para mim, mas insuficientes para despertar a intolerância, ainda estática dentro de minha mente.

Mas então alguém pergunta quanto tempo demoraria a consulta. A brevidade da consulta e a rápida resposta da moça puderam conter qualquer movimento de impaciência, pois não houve perturbação no ambiente da espera!

Por telefone, outras perguntas surgiam: quanto custa a taxa de renovação? Tem um boleto para pagar? E o valor da consulta? Nessa hora, de posse da informação do custo da consulta, vi o pensamento de queixa “pegar a calculadora” para computar o quanto perdia o médico com seu atraso: se cada consulta era de tantos minutos e o atraso já superava meia hora…

Concordei com o pensamento de queixa, não só para ajudá-lo na conta, mas para rir internamente de sua ardilosa tentativa de tomar a direção de minha mente.

Não pude deixar de considerar que o pouco apreço com o tempo alheio é uma conduta imprópria, mas que não deveria provocar uma contenda dentro de minha mente.

Tão logo chegou o médico, começaram os atendimentos, na cadência prevista. A saída de minha esposa do consultório trouxe a feliz sensação de tarefa cumprida, compartilhada por ambos.

O movimento me estimulou a atender ao pensamento que, crescendo durante o tempo passado na clínica, me incitava a reconhecer o bom trabalho feito pela atendente.

Seu compromisso e sua responsabilidade pareciam dar vigor ao pensamento da jovem em cumprir bem sua função profissional, e deveriam também refletir em outras atitudes suas.

O elogio foi recebido com surpresa e imediatamente retribuído com um sorriso discreto e sincero. Considerei acertada a decisão de atender àquele pensamento, que produziu um gesto cordial e acrescentou mais alegria àquela manhã luminosa e bem aproveitada, e que também me permitiu um passeio dentro de minha mente!