Entre a arte de ensinar e a arte de aprender existe uma grande diferença, não obstante ambas se acharem intimamente vinculadas. Geralmente, quem começa a aprender o faz sem saber por quê; pensa que é por uma necessidade, por uma exigência de seu temperamento, por um desejo ou por muitas outras coisas, às quais costuma atribuir esse porquê. Mas quando começa a vincular-se com aquilo que aprende, vai despertando nele o interesse, ao mesmo tempo que se reanimam as fibras adormecidas da alma, que começa a buscar, chamando ao estudo, os estímulos que irão criar a capacidade de aprender.

Entretanto, o que é que o ser aprende, e para que aprende? Eis aqui duas indagações às quais nem sempre se podem dar respostas satisfatórias. Aprende-se e se segue aprendendo, adquirindo hoje um conhecimento e amanhã outro, de igual ou de diferente índole. Primeiro se aprende para satisfazer às necessidades da vida, procurando conquistar uma posição por meio do saber e, ao mesmo tempo, solucionar muitas das situações que a mesma vida apresenta.

Quando se concluem os estudos, é como se na mente ocorresse uma desorientação. Enfim, quando essa vida de estudos termina, começam as atividades nas diversas profissões, o que paralisa a atividade anterior da mente dedicada ao estudo; muitos até chegam a esquecer aquela constante preocupação que antes tinham, de conseguir cada dia um conhecimento a mais, encontrando-se como os que, tendo concluído o percurso de um caminho, não sentem a necessidade de dar um passo a mais, por não achar o incentivo de um objetivo capaz de propiciá-lo. É esta uma das causas de onde provém tanta desorientação nos seres humanos.

Por outro lado, os que, além dos estudos da profissão aprendem outras coisas, aprendem, muitas vezes, sem ter verdadeira consciência disso. Acumulam uns tantos conhecimentos, mas depois – salvo exceções – não sabem o que fazer com eles; não sabem usá-los para o seu próprio bem nem para o bem dos demais seres. Assim é como são vistos aprendendo ao acaso, aqui e ali, sem ter um guia que os leve para uma meta segura e lhes permita fazer de tudo uma aprendizagem útil para si mesmos e para seus semelhantes.

Ao dar a conhecer seus ensinamentos, a Logosofia deixa claro que existe uma imensidão desconhecida para o homem, na qual ele deve penetrar. Dá a conhecer, além disso, que enquanto se interna nessa imensidão, que é a Sabedoria, isto é, enquanto aprende, pode também ensinar, porque a arte de ensinar consiste em começar ensinando primeiro a si mesmo, ou, dito de outro modo, enquanto por um lado o ser aprende, por outro aplica esse conhecimento a si mesmo e, ensinando a si mesmo, saberá depois como ensinar aos demais semelhantes com eficiência.

A arte de ensinar consiste em começar ensinando primeiro a si mesmo

Extraído de Introdução ao Conhecimento Logosófico, p. 259-260

Introdução ao Conhecimento Logosófico

Introdução ao Conhecimento Logosófico

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.