Naquela manhã, escutei um murmurinho entre os professores: 

A turma está muito agitada hoje, dizia um deles. 

O professor teve dificuldade para dar a aula lá, completava outro. 

Dois alunos da turma tiveram um desentendimento durante a educação física! 

Tive a oportunidade de ir até a turma para entender o que estava acontecendo e ver como eu poderia ajudar.  

Quando abri a porta, havia alguns papéis jogados pelo chão, carteiras desalinhadas pela sala e material fora do lugar. 

Quem pode colaborar comigo recolhendo os papéis do chão? Vamos alinhar as carteiras e guardar os materiais espalhados pela sala? De quem é esse lápis? E aquela mochila jogada lá no fundo? Sugeri. 

E, assim, juntos, fomos trazendo a ordem de volta ao espaço da sala de aula.  

Como está a manhã de vocês? Como se portaram nas aulas? Perguntei. 

Sem titubeios, os alunos responderam num atropelo só: 

Foi uma bagunça, prof.  

Toda hora alguém faz uma brincadeira fora de hora. 

Houve confusão lá na quadra. 

– ‘Tá todo mundo bem agitado hoje; ninguém se controla!  

E aquela foi a minha deixa para dizer que havia escutado o mesmo dos professores. Ao entrar ali, eu já sabia que a manhã deles não havia transcorrido de forma serena ou harmônica. A agitação dos pensamentos de cada um estava estampada no chão da sala.  

Tudo começa dentro da mente.  

E foi assim que, dos papéis picados no chão, fomos ao cosmo. 

Uma das alunas costumava pintar lindas aquarelas, e, dirigindo-me a ela, indaguei: 

Antes de você materializar suas ideias em seus quadros, onde elas estavam?  

Sem esperar por sua resposta, prossegui: 

– E tudo o que está expresso hoje, no mundo físico, onde esteve primeiro? Esta carteira aqui, onde esteve? 

–  Acho que na mente, alguém respondeu.  

Cada um de nós carrega um universo dentro de si, e, assim como há muitos habitantes no mundo onde estamos, também há inúmeros seres em nosso mundo individual. Alguns desses habitantes são os pensamentos e, dependendo de sua índole, no mundo fora de nós pode-se construir ou destruir, forja-se a paz ou institui-se a guerra, cria-se um ambiente de estudo sereno e feliz ou agitado e conflituoso. Afinal, o que observamos fora é apenas o reflexo do que se passa dentro de nós. 

A conversa prosseguia, e, enquanto escutava os alunos, olhei através da ampla janela. Deparei-me com potentes raios de sol iluminando o pau-brasil ali perto. Um ninho de sabiá formava-se em sua copa, e pequenas flores amareladas começavam a despontar.  

Onde será que aquele pau-brasil esteve primeiro? Voltei a perguntar.  

E o sabiá? O sol? Onde a natureza esteve antes de se apresentar fisicamente aos nossos olhos? 

Diante daquelas perguntas, fez-se um silêncio, e eu quase que podia escutar as engrenagens das mentes ali presentes em pleno funcionamento.  

Com certeza, em uma mente maior que a nossa, alguém soltou.  

E mais poderosa também! 

Será que estava na mente do Criador? Questionou, por fim, uma das alunas. 

E foi assim que, dessa vez, fomos das pinturas criadas pelo homem às mais belas pinturas criadas por Deus. 

Se soubermos usar a observação em sua plenitude e para seu propósito original, aprenderemos muito com as telas divinas. Na natureza expressam-se os habitantes da mente de Deus: Seus pensamentos. E, assim como Ele, podemos tornar-nos criadores: criadores de nós mesmos, criadores de nossos próprios pensamentos. 

Lancei, então, um importante desafio: 

Turma, vamos conhecer o nosso universo interno e criar novos pensamentos? 

–  Para ter um universo interno melhor, né, prof? 

É… Eles haviam entendido tudo.