Certa vez, conversava com um oficial da Aeronáutica que havia atuado na Academia da Força Aérea – onde se formam os pilotos – e ele me disse que os instrutores de voo sempre ficavam apreensivos quando chegava um cadete que demonstrava excesso de confiança e ausência de medo de empreender manobras mais difíceis, fatores que poderiam aumentar o risco de um acidente.
Esse relato é semelhante ao de pessoas que decidem atravessar, a nado, um lago de até 5 km de extensão entre suas margens, como é o caso do lago Paranoá, na cidade onde moro. De modo destemido e ousado, alguns lançam-se na empreitada sem nunca terem nadado mais de 50 metros, não possuindo, portanto, condições para a travessia. O resultado, previsível, tem sido muitas vezes trágico.
Pergunto: por que o excesso de confiança pode ser prejudicial? Vejamos o que nos ensina González Pecotche, autor da Logosofia:
A confiança em si mesmo tem de significar a prova de uma justa avaliação; o culto às condições e à capacidade, sem cair na egolatria nociva.
Foi o que aconteceu nos casos das travessias do lago: havia uma confiança exagerada na própria capacidade, que ainda não existia.
A confiança exige uma causa que a justifique e que respalde as iniciativas baseadas nela. Nos relatos apresentados, tratava-se de uma confiança sem fundamento, sem base que a sustentasse; era mais uma egolatria nociva, que, de forma imprudente, resultou em acidentes e, por vezes, em tragédias.
Quando a confiança surge de forma consciente e fundamentada, ela se torna motivo de grandes realizações e de superação de desafios. González Pecotche também ensina que:
…a confiança é uma força que move montanhas, sulca os mares e transcende o infinito.
Recordando momentos vividos, observo, de modo geral, os benefícios que a confiança me proporciona: segurança ao agir, atuações mais alegres e serenas, e a certeza de resultados mais satisfatórios; ainda que, eventualmente, não conduza ao esperado, permite-me identificar o que faltou para alcançar o sucesso almejado.
Mas, como dito anteriormente, a confiança exige uma causa; caso contrário, será ilusória e, apesar da expectativa de sucesso, a possibilidade de fracasso é grande, trazendo desgostos e momentos infelizes.
E como se cria a confiança em si mesmo?
O recurso sempre oportuno é o conhecimento. Em particular, aquele necessário à empreitada em questão: estudando-a, praticando-a gradualmente, observando atentamente e aperfeiçoando o que se vive, sempre consciente desse movimento interno que constrói a confiança, manifestada na segurança da atuação na solução das questões e nas respostas adequadas.
Com os estudos da Logosofia, descobri que possuo um mundo interno onde habitam pensamentos, sentimentos, faculdades mentais e sensíveis, ideias e emoções – e é neste mundo que a confiança se encontra. Conhecê-lo favorece a realização dos esforços necessários para criar e consolidar a causa da confiança em mim mesmo e na minha verdadeira capacidade de realizar.