Quando eu era adolescente, comecei a apertar os olhos para ler a matéria no quadro. Diziam que eu devia ter miopia. Não entendia o que queriam dizer, pois, “eu conseguia ver tudo”! Fui a um oftalmologista que confirmou a tal miopia e, quando coloquei os óculos pela primeira vez, foi um espanto: “então é assim que é o mundo em foco”?
Dentro dessa simples vivência encontra-se um conceito: o de conhecimento. Fui longe? Eu não sabia que o mundo estava fora de foco até o momento em que vi tudo com contornos precisos. Eu vivia constantemente no “turvo”, sem saber que a “alta definição” era uma possibilidade. Penso que também é assim com o conhecimento. Quando se adquire um novo conhecimento. costuma-se dizer: “como não vi isso antes”?
Há um tipo especial de conhecimento, por ser demasiado importante, que é o “conhecimento de si mesmo”. Sócrates o explorou e até mesmo Sun Tzu percebia que um general, que não se conhecesse, perderia todas as batalhas. Apesar de terem experimentado partes dessa realidade e feito grandes contribuições em suas épocas, nenhum pensador ou filósofo, que abordou o tema do autoconhecimento, foi capaz de apresentar um método para alcançar tão almejada realização.
Quem busca conhecer a si mesmo, o quer para viver melhor? Não é como o míope que busca ver o mundo em foco, ao descobrir que é possível? É lógico pensar que ninguém quer ver o mundo turvo, fora de foco, assim como ninguém quer viver na completa ignorância acerca de quem se é.
Muitos podem estranhar: “conhecer a mim mesmo? Mas eu já me conheço, já sei como sou!”. Segundo a Logosofia, ciência que apresenta um método que leva ao conhecimento de si mesmo, o início de tudo deve começar com a realização de “um inventário dos bens mentais, morais e espirituais” que cada um possui. Ou seja, fazer uma consulta profunda e honesta de tudo que compõe o mundo interno.
É evidente, infelizmente, que a maioria das pessoas procura esse conhecimento fora de si, chegando inclusive ao absurdo de dizer que conhece fulano ou beltrano antes de buscar conhecer a si mesmo. Ficam assim, vítimas da própria miopia mental.
De forma semelhante de quando se aproximam de uma superfície para perceber suas imperfeições, os que já se aventuram na observação da própria conduta sabem que nem sempre ela é tão boa quanto gostaríamos. O conhecimento dessas imperfeições de nossa psicologia, por amargo que possa ser, representa a possibilidade de aplicar-lhes a devida correção, aplainando a áspera superfície de nossa conduta.
Ah! Quantas páginas poderiam ser dedicadas a um conhecimento de tamanha envergadura e que tantas possibilidades traz ao ser humano! A efetiva mudança no mundo começa pelo indivíduo e é o conhecimento de si mesmo o que possibilita a ele transformar seu próprio destino. Pode-se dizer que mudando os pensamentos, muda-se a vida.
Mas essa ainda é uma realidade ignorada por muitos seres humanos, daí o estado generalizado de confusão e a dura sensação de vazio relatada por tantas pessoas. Talvez no dia em que todos deixarmos o estado míope, dessa profunda obscuridade trazida pela ignorância e pela inconsciência, possamos ter mais e mais pessoas a desfrutar a maravilhosa oportunidade que nos é dada: a de evoluir conscientemente, atuando cada dia mais conforme o próprio querer e cumprindo com o grande objetivo de estarmos na Terra. Vamos, quem sabe um dia, parar de buscar a felicidade fora de nós mesmos, nos fins de semana, nos altos de montanhas ou em outros planetas, para encontrá-la dentro de nós mesmos.