O conhecimento logosófico representa o mais alto valor intelectual, moral e espiritual, que assiste à mente humana. Mas para que se realize este valor e manifeste à razão individual, tornando-se consciente, se requer três coisas: tempo, método e dedicação. Estas podem muito bem reduzir-se a somente uma: método, já que o tempo e a dedicação formam, na realidade, parte dele.
O método logosófico é experimental. Por conseguinte, jamais se poderia compreender o valor de seu ensinamento sem antes tê-lo praticado. Seu valor real surge, pois, da experimentação.
No entanto, dois grandes inimigos do homem, próprios de seu temperamento, costumam aliar-se em oposição à realização do grande ideal que o saber logosófico contém. São eles: a impaciência e a falta de serenidade. Fatores estes que atacam preferencialmente os seres habituados à luta diária com os livros, os quais sendo expoentes do conhecimento comum, diferem absolutamente do conhecimento logosófico.
Daí que o intelectual incipiente no estudo e investigação logosóficos queira imediatamente ver algo concreto e positivo, como em geral é realizado na investigação corrente. Porém, isto não é possível porque a visão, a verdadeira visão superior ou visão consciente das coisas, surge da experimentação do ensinamento, que é o que permite ver o invisível, ou seja, descobrir causas. O conhecimento conseguido por esta via não é a posteriori, nem muito menos a priori, senão ad referendum.
O saber logosófico implica, então, em um conhecimento muito diferente de tudo quanto se costuma entender como tal na ordem comum. O conhecimento oficial é de índole quantitativa. Cada um de seus tópicos tem um começo, um desenvolvimento e um fim. O conhecimento logosófico cresce indefinidamente.
O estudante comum somente precisa se esmerar em transferir para seu entendimento os tópicos que compõem tal conhecimento, da melhor maneira possível, por meio de sua razão. Depois fica a cargo da memória manter em bom estado o “quantum” assimilado.
Isto se consegue por meio do que nos ambientes educativos se chama de repasse e preparação imediata, seja para a finalidade de exposição, para a aplicação do conhecimento ou simplesmente de uma explicação. A consciência emanada de tais conhecimentos é, por consequência lógica, parcial, virtual, mental, ou como quiser chamá-la. O fato é eles têm a ver, no máximo, com a mente, mas com o espírito, um mínimo ou nada.
O conhecimento logosófico, por sua vez, mais do que qualitativo é essencial. Abarca numerosos aspectos e cumpre diversas finalidades.
Uma dessas finalidades é a de complementar o conhecimento comum e de forma indispensável. E ainda mais: complementá-lo e suplementá-lo.
Explicamo-nos: o ensinamento divulgado pela Logosofia constitui, antes de qualquer coisa, um apoio ou uma sustentação mental. É uma força destinada a por em marcha as faculdades mentais, às quais presta seu apoio e lhes dá o impulso inicial, fazendo-as trabalhar imediatamente e produzir, por si só, criando uma compreensão surgida ao se percorrer a rota indicada pelo impulso inicial.
O conhecimento logosófico é, pois, sui géneris, por meio do qual serve para elaborar os conhecimentos que deverão denominar-se como “próprios”.
Uma das diferenças distintas do conhecimento oficial é que o conhecimento conquistado na investigação e prática logosóficas consiste, que no primeiro é alheio a quem o estuda, por ser alheia a elaboração definida nos livros de texto e consulta. A única coisa própria de tal conhecimento é o esforço individual de transferi-lo dos livros à mente. Por isso, expressávamos mais acima, que toda vinculação entre o conhecimento comum e o ser que o cultiva, está no intelecto e daí não passa: é uma simples transferência.
O conhecimento superior, surgido do cultivo consciente do ensinamento logosófico é, em primeiro lugar, uma elaboração particular do ser. E, em segundo lugar, um requisito do método exclusivo da Logosofia. Atua como instrumento de labor intelectual: “atua no interno do ser como um superpoder ativo ao estimular, propiciar e animar a própria vida, indistinta e comum, em vida de plenitude”.
Vê-se claramente que o principal objetivo deste ensinamento é o de fazer pensar: propicia, estimula, provoca a reflexão em todos os graus e formas possíveis.
Porém, inclusive quando o ensinamento conduza imediatamente a pensar, o que cada um pensa já não pertence à Logosofia, senão que àquele que se valeu dela para fazê-lo de forma eficaz. Em outras palavras, o ensinamento pertence à Logosofia, o produto elaborado por meio desta pertence ao logósofo.
Um dos valores que separa o ensinamento logosófico dos demais é a razão que o sustenta. Razão que, por provir de princípios e leis permanentes e imutáveis, denomina-se de essencial. Esta razão essencial constitui, por sua vez, o índice de sabedoria que a assiste. Um fragmento ou aspecto dessa sabedoria ou razão essencial é o que o investigador capta ao estudar um ensinamento. E a consequente expressão de força ou razão, superior à que assistia sua inteligência antes de estudar o ensinamento, é a que desde agora passará a presidir seu pensamento e a dirigi-lo.
Logosoficamente dirigir o pensamento é dirigir a vida. “A partir do momento em que a sabedoria que anima o ensinamento – expressa a Logosofia – preside o pensamento de tudo o que institui como norte de sua vida, o mundo e as coisas se tornam menos incompreensíveis. Mais ainda, explicam-se ao entendimento, com o qual se fulminam os fantasmas da mente, que tornam os seres débeis e tementes ao incerto que é, na verdade, o que debilita a vontade e esteriliza a vida.”
A Logosofia se propõe, como se pode calcular, a ensinar o homem a conquistar sua própria liberdade e sua própria independência interna, virtudes que possuirá quando recobrar o domínio de sua mente e, portanto, de sua vontade e for capaz de se bastar.
Dissemos que o conhecimento logosófico constitui um apoio mental, virtude pela qual as faculdades intelectivas coordenam seus esforços em prol de uma compreensão racional. Deste modo é como se inicia o processo interno de assimilação consciente do ensinamento. Processo que assume um valor essencial para a própria vida. O que foi pensado, quer dizer, a compreensão mental conseguida no estudo do ensinamento, por ter sido forjada com o intelecto comum pode ser errônea, acertada ou um pouco de ambas. Por conseguinte, o segundo passo do investigador consiste em verificar na prática o resultado mental conseguido com o estudo e meditação do ensinamento.
Torna-se imprescindível, então, a comprovação experimental, onde o investigador observará se o que pensou coincide ou não com a realidade. Se é algo que se verifica ou não, ou se frente a ela deverá retificar, completar ou ampliar seu quociente inicial, para efeito de que sua compreensão mental ascenda à categoria de compreensão real.
Fica pendente ainda uma terceira etapa.
Ao experimentar em si mesmo um resultado mentalmente compreendido, vincula-se tal conhecimento à vida do experimentador. Mais tarde, a prática reiterada permitirá ir ampliando tal conhecimento, retificá-lo, completá-lo etc., e perceber na consciência seus efeitos imediatos.
Bem, se os efeitos beneficiam o ser, nada mais sensato do que incorporá-los definitivamente à própria vida. Chegando-se a isto, surge o terceiro momento do processo interno de assimilação consciente do ensinamento. E esse terceiro momento acontece quando a compreensão real se converte em atributo, em condição de vida superior, em virtude.
Logosoficamente a virtude é a expressão mais acabada de um conhecimento, ou melhor, um conhecimento em sua máxima expressão ou valor.
Tal processo de realização interna apresenta vantagens inquestionáveis. Em primeiro lugar não se esquece o conhecimento conquistado, por se tratar de um conhecimento vivo, principalmente porque se o amplia mais quanto mais se o pratica. Em segundo lugar, pode ser facilmente transferido à outra pessoa ou aplicado a uma determinada circunstância com a segurança que confere tudo que já tenha sido suficientemente testado e de cuja eficácia não se tenha nenhuma dúvida.
É por isso que a aquisição de um conhecimento superior representa a conquista de uma parte do tempo total, pois constitui, por si só, um passado permanentemente presente, que pode se projetar em qualquer momento do futuro mantido dentro do ser, seu indiscutível dono.
Como consequência disso o conhecimento superior retém o tempo, evitando que o passado o devore. Ao retê-lo, o aumenta, e ao aumentá-lo, amplia a vida. Ao ampliar a vida por meio do conhecimento, esta adquire uma elasticidade sem precedentes, uma vez que faculta o ser para situar-se confortavelmente no futuro, já que, mesmo quando os fatos não tenham acontecido ainda, pode saber de antemão o resultado que vai obter em tudo o que depender dele.
Um pensamento-conhecimento iniciado é um fato, um passado que, por assumir um novo estado de manifestação, passa a integrar o futuro, tempo este para o qual seu dono também pode deslocar-se conscientemente.
O conhecimento permite, pois, atuar conscientemente. Atuar conscientemente significa ser possuidor da parte de tempo que corresponde a esse conhecimento.
Vê-se, então, como o tempo pode ser ampliado enormemente em virtude da lei de evolução.
A vida física não é nada mais que um fragmento de tempo, e se a este pode-se ampliar, com mais razão àquela a qual o conhecimento pode duplicar, triplicar, centuplicar etc. Portanto, a inteligência, centro do intelecto, elabora o conhecimento, cujo processo fixa a consciência para sempre.
É assim como a mente se constitui no cavalo, que puxa da carroça da consciência, portadora do material elaborado pela inteligência, condutora do veículo “da vida que marcha através da morte para a imortalidade”.