Quando paramos para pensar sobre a nossa vida nos consideramos donos dela, julgamos que a governamos plenamente sem interferências externas e internas. Alguns chegam a dizer que possuem forte personalidade e que por isso não são influenciáveis. Mas será que é isso mesmo? Será que realmente temos total controle e compreensão sobre nossos atos? Eu sempre respondi a essas perguntas com um grande sim, um sim cheio de certeza e confiança e, é claro, que justificava as experiências negativas que vivia como coisas do destino ou colocava a culpa no mundo ao meu redor: fosse na configuração social, na escola que exigia muito, em tal pessoa que era egoísta, etc. O problema nunca estava em mim, afinal pensava que tinha total governo da minha vida e das minhas escolhas.
Continuei pensando assim por um bom tempo, conduzindo minha vida com muitas certezas. Entretanto, continuava vivenciando os mesmos problemas, tinha atritos na convivência com amigos, com meus pais, na escola e não me sentia feliz. Eu tinha tudo que uma pessoa que se considera dona da sua vida poderia querer, mas não conseguia entender o porquê da minha existência, qual a finalidade de acordar, ir estudar ou conviver, se um dia tudo iria mesmo acabar. Foi nesse momento que conheci a realidade do meu mundo interno: meus pensamentos, minhas virtudes, minhas deficiências e, acima de tudo, os grandes objetivos que poderia traçar para a minha existência.
Esse novo período de descobertas coincidiu com meu ingresso na faculdade de Medicina, o curso que sempre sonhei, mas que sem o devido conhecimento interno poderia me trazer momentos de muito sofrimento. Já no primeiro período me deparei com pensamentos extremamente negativos transmitidos por alguns colegas de turma, que constantemente afirmavam que deveríamos viver para a faculdade; que o tempo deveria ser exclusivamente dedicado aos estudos e às exigências acadêmicas.
Em um primeiro momento me vi levada, mesmo que sem perceber, por esses pensamentos. Já não tinha tempo para sair com meus amigos, para assistir um filme com meus pais ou simplesmente me permitir ler um livro no final de semana. Novamente me senti infeliz e aprisionada a uma rotina na qual não conseguia ver os grandes objetivos de vida que outrora havia definido. Entretanto, ao contrário da Ana Clara do passado, que tinha tantas certezas sobre o controle da vida, eu sabia que algo estava errado e que eu deveria buscar as causas internamente e não apenas externamente.
Comecei por analisar alguns pensamentos. Será que essa era realmente a melhor forma de conduzir meu curso? De imediato a resposta foi não, e então veio outro questionamento: Por que estou abrindo mão dos outros campos da minha vida? E dessa vez a minha resposta me surpreendeu, uma vez que percebi que eu estava sendo influenciada pelos pensamentos alheios.
A partir daí, me propus a mudar minhas atitudes e a forma como conduzi minha vida até o presente, mas, para isso, eu precisaria me tornar uma verdadeira cientista do meu mundo interno, seria necessário analisar meus pensamentos e reações, verificar quais pensamentos eram alheios e sempre ter em mente que ainda não governava minha vida, que estava susceptível às interferências externas e ao descontrole interno. Principiei por definir qual era meu objetivo no curso de medicina, e, a partir disso, defini que me dedicaria muito aos estudos durante a semana, conciliando com momentos de lazer à noite. Aos finais de semana sairia pelo menos uma vez com meus amigos ou com meus pais. Devo admitir que inicialmente não foi fácil resistir aos pensamentos da faculdade, mas a certeza de que não queria me tornar escrava da minha vida, mas sim senhora e dona dela, me fazia ficar sempre alerta. Com o tempo, acabei encontrando meu equilíbrio e pelo menos nesse campo da minha vida já começava a me sentir mais segura, firme e atenta.
Essa experiência foi apenas uma das tantas que vivi na tentativa de retomar o governo da minha vida. É um projeto enorme, que vai durar todo o período da minha vida física, mas que ao mesmo tempo é extremamente gratificante. Compreendi que para me sentir dona de mim devo substituir os conceitos truncados que possuía e que não davam segurança, e buscar a construção do grande objetivo de minha vida: conhecer a mim mesma internamente e aplicar o que aprender nos diversos campos da minha vida. Em outras palavras, ser protagonista da minha própria história!