Como alcançar a imunidade nas lutas?
No último episódio da temporada, trazemos as reflexões que aprendemos com cada luta da vida, ressaltando que todas nos dão a oportunidade de nos superarmos e de servimos à humanidade com que temos de melhor.
Uma pergunta que inquieta e traz em si muitas reflexões — pensar sobre o que significa ser criança é ter a possibilidade de entender a infância e o porquê de todos nós passarmos por esta fase na vida. A partir disso, conhecer o que é preciso realizar para que a criança tenha seus direitos garantidos e possa desenvolver-se em um ambiente adequado e saudável.
A Ciência Logosófica apresenta o ser humano como um ser dotado de duas naturezas, uma física e outra espiritual. Ao nascermos, já manifestamos aspectos da vida física, em todo o seu potencial biológico e psicológico, como também da vida espiritual, através da herança individual de cada ser. A nossa parte psicológica é formada por três sistemas (instintivo, mental e sensível) que vão sendo desenvolvidos durante a vida. Contudo, vale ressaltar que a criança na primeira infância age movida por dois impulsos — o instintivo e o sensível — que alternam entre si, já que são poucas as faculdades mentais em funcionamento (observação, imaginação e memória); as demais vão sendo ativadas mediante os conhecimentos que serão assimilados ao longo da vida. Neste ponto, a educação cumpre o papel fundamental de oferecer à criança os melhores elementos que a levem a começar a entender o mundo e a querer participar dele.
Desta forma, a infância precisa ser uma fase da vida em que a criança sinta confiança em estar no mundo; por isto é muito importante protegermos sua mente de imagens violentas, como de coisas que ela ainda não é capaz de compreender. Este é um dos recursos que a Logosofia apresenta no cuidado da primeira infância, no olhar atento a tudo o que a criança esteja observando, sejam filmes, desenhos e até cenas cotidianas, a fim de evitar que momentos ruins fiquem gravados na sua tela mental. Em contrapartida, oferecemos à criança os melhores estímulos para a vida: os naturais, fundamentados em elementos reais, verdadeiros, que a criança possa comprovar em suas experiências e a façam viver também com alegria, ativamente e entendendo que, dentro de sua mente, habitam pensamentos que ela deve conhecer para saber selecionar os que são úteis à sua vida.
Para educar um ser, a Pedagogia Logosófica ensina, como algo imprescindível ao docente, realizar um autoconhecimento que o leve a se conhecer com profundidade, para estar atento a tudo o que acontece dentro de si e que, ao ensinar, seja exemplo, uma vez que a criança aprende imitando. E, então, ainda que no exercício de educar cometa erros, o simples fato de mostrar à criança como lidar com eles, é, em si só, um recurso valioso para a vida, uma vez que, ao identificar-se o erro podemos superá-lo.
Assim, tudo é motivo de reflexão docente, que implica nutrir-se dos melhores elementos para explicar à criança o motivo de cada coisa. Com isso, pode-se ensinar às crianças a pensar e, à medida que crescem, ir adquirindo mais consciência destes movimentos mentais e também sensíveis, sabendo compreender porque ficou triste ou contrariada e a mudar esses estados internos. São conhecimentos poderosos que, ao serem assimilados, tornam-se um conteúdo da vida que dão ao ser a prerrogativa de desfrutar de uma verdadeira liberdade, pois que já deixa de ser refém dos pensamentos, uma vez sabendo que nem sempre aquilo que está realizando é fruto do seu querer, vindo, às vezes, de algum movimento externo, ou de outras pessoas, ou do ambiente; saber disso faz com que a criança, já maior, entrando na adolescência, possa ir se protegendo.
Por isso, o educador (mãe, pai, professor e demais agentes educativos) é tão valorizado na Ciência Logosófica, pois ele é capaz de dar o tom da relação, sabendo entender o ponto em que a criança se encontra, respeitando o seu tempo e agindo com paciência inteligente, que significa realizar tudo o que precisa ser feito enquanto aguarda o tempo certo do florescer de uma aptidão.
É uma tarefa árdua e delicada, considerada uma arte por González Pecotche, o criador da Logosofia, e que só é possível concretizar quando o docente consegue tocar a sensibilidade da criança, estabelecendo um vínculo capaz de abrir o entendimento para as manifestações da criação. Com mãos seguras e afetuosas, o docente conduz a criança, de forma que, a partir das experiências que a vida lhe oferece, ela consiga cultivar virtudes de inestimável valor para a vida. Assim, ao despertar sua natureza espiritual, a criança não só desenvolve o seu intelecto como também sua sensibilidade, que traz consigo inquietudes a respeito do que significa ser humano e habitar este mundo e, com isso, permite que a vida tenha uma direção, um sentido, um norte.
A criança chega a este mundo com muitas possibilidades, fruto da sua herança, mas muitas vezes algo faz com que, no caminho, ela vá perdendo o verdadeiro gosto por viver, distanciando-se do real sentido de estar aqui. Esta fase da vida é, portanto, preciosa, devendo ser cuidada com muita sabedoria para que ao educar possamos tornar real o que é potente na criança, fazendo com que o brilho que ela tem nunca se perca e que possa crescer a cada dia. Nesta bela trajetória, o docente vai descobrindo que em seu interior há também uma criança, e que precisa se reconectar com ela para entender os mistérios que envolvem sua vida. E conviver com crianças é um convite para resgatar nossa herança, a fim de compreender quem somos, quem são essas crianças com quem convivemos e, principalmente, aquela que já fomos.