Aconselharia a todos os jovens, de ambos os sexos, em via de contrair matrimônio, e principalmente ao homem, que formulassem para si a seguinte pergunta: “Para que quero me casar?”
Eis aí a interrogação que o homem deveria se propor antes de acometer semelhante empresa; interrogação que poucos formulam para si, e, se o fazem, não é com o necessário acerto.
Examinada a pergunta à luz de nossos pensamentos e possibilidades discernitivas, ela haverá de nos levar a pensar que a determinação de nos casarmos responde ao desejo de adotar o gênero de vida oferecido pelo matrimônio. A essa conclusão terá de nos conduzir, necessariamente, o fato de haver encontrado a mulher que corresponde a nossas aspirações e que reúne, por conseguinte, as condições para nos fazer felizes.
O homem quer formar um lar e dedicar-se, com a espontaneidade que surge de seu coração, aos seres queridos que irão viver nele, isso é, sua esposa e filhos. Mas, para que isso seja uma realidade, o amor que a mulher tenha chegado a lhe inspirar haverá de predominar sempre em alto grau sobre sua condição sexual, propensa a excitar seus sentidos e desviá-lo desse objetivo. Assim sendo, jamais se empanará a imagem refletida no espelho de seu sentimento.
Como, porém, conservar ao longo dos anos o encanto desse amor puro, nobre, profundo, que a alma respira nos dias de namoro?
Ocorre com extrema frequência que o homem, depois de experimentar a convivência com muitas mulheres, decide de repente fechar os olhos para todas e olhar somente para aquela que ele escolheu com o fim de enfrentarem juntos a grande batalha da vida. Que particularidades misteriosas viu ou descobriu nela, a ponto de distingui-la, colocando-a em lugar tão privilegiado? E por que acontece com tanta frequência que o homem acha que se equivocou em sua escolha?
Se ele parasse para pensar em suas próprias deficiências ou culpabilidade é provável que na maioria dos casos tal coisa não sucederia. Muito é o que o homem tem de aprender, e não menos a mulher. Duas coisas são indispensáveis para que perdure esse amor fresco e puro que se sente pela amada, sem que se debilite jamais. A primeira é o afeto, que, menos impulsivo que a paixão, assegura seu arraigamento, já que embora a paixão infunda vida ao amor, o afeto é chamado a preservá-lo e conservá-lo. A segunda, tão indispensável quanto a primeira, é nossa dignificação aos olhos do ente querido, o que só se consegue por meio dos esforços e das preocupações pelo bem-estar da família e alcança sua máxima expressão quando nos elevamos, numa superação constante.
Sendo o amor uma força e um poder, nenhuma circunstância poderia ser mais oportuna, para ensaiar sua virtude, do que a de empregá-lo na consagração definitiva de um lar que possa ser exemplo de lar. O amor é o grande elemento com que se suprem muitos claros produzidos no âmbito sensível pelas deficiências caracterológicas, e é também o que infunde confiança em nossas próprias forças, para esperar uma correspondência mais elevada às demandas, por vezes silenciosas, de nosso ser moral.
Extraído de O Senhor de Sándara, p.212-215