Estudando a história da humanidade identificamos diversos momentos que foram cruciais para nosso avanço. A descoberta da penicilina em 1928, assim como o desenvolvimento de vacinas, permitiu que as pessoas vivessem por mais tempo. O primeiro veículo foi inventado em 1769, e em 1837 o primeiro computador mecânico já havia sido desenhado e conceitualizado; e não podemos esquecer, é claro, da invenção da luz elétrica em 1879.
Todas essas invenções possibilitaram ao ser humano uma melhor comunicação, otimização de seu tempo e eficiência em suas atividades. Elas transformaram o mundo para melhor porque permitiram que o homem avançasse em termos de capacidade e vivesse em melhores condições.
Muito tempo depois, no ano de 1992, em um país considerado por muitos de terceiro mundo, em uma cidade cercada por montanhas no estado de Minas Gerais eu chegava ao mundo. Logo que nasci fui vacinada e, desde então, venho usufruindo dessas pequenas porções de bem que tantos inventores deixaram para a humanidade. Recordo que quando estava no ensino fundamental tinha um grande anseio de inventar algo, mas inventar algo útil.
Entretanto, eu pensava que havia chegado muito tarde e, depois de todos esses anos que a humanidade percorreu, não havia quase mais nada a avançar. Ainda criança, lembro-me de conhecer um senhor, amigo dos meus pais, que havia inventado o ebulidor e a vassoura de garrafa pet.
Ao visitar sua fábrica pensei: pronto, esgotaram-se as possibilidades, não há mais nada que eu posso fazer, esse senhor nasceu antes e aproveitou sua oportunidade de fazer algo para a humanidade, fiquei para trás.
À medida que fui crescendo e compreendendo melhor sobre a realidade do mundo em que vivia fui percebendo que o mundo não estava tão “pronto” e avançado como achei que estivesse. Sentia e observava que muitas coisas ainda precisavam ser feitas, então comecei a me perguntar: o que ainda precisa ser feito? E, principalmente, o que eu posso fazer para que a humanidade avance e realize as mudanças que eu quero ver no mundo?
Percebia uma tendência em mim e nos demais de esperar que o outro tomasse a iniciativa de mudar. Culpava meus familiares pelos desentendimentos que tínhamos, culpava meus colegas pelas repreensões que sofríamos e culpava os políticos pela situação do país. E sempre que refletia sobre as situações pelas quais eu passava ou observava chegava à mesma conclusão: se não posso mudar o outro as situações nunca irão mudar.
Foi aí que descobri uma nova parte do mundo e, à semelhança do que ocorreu com Vasco da Gama e as Índias ou com Colombo e as Américas, essa parte esteve sempre ali, independentemente de eu estar ciente dela: o meu mundo interno.
Nesse mundo é onde vivem os meus pensamentos, os meus sentimentos, as minhas sensações como as de alegria ou de sofrimento, as minhas reações positivas e negativas ante as experiências da vida, as minhas convicções e ideias.
E é justamente nessa parte do mundo em que eu tenho o maior poder de mudança. Quando estou atenta ao que ocorre nele tenho a prerrogativa de dirigir conscientemente todos os movimentos e atos da minha vontade. E, ter em mente o meu propósito de transformar o mundo para melhor me guia para que essa vontade esteja sempre voltada para o princípio de fazer o bem, de me superar.
Foi aí que percebi que, apesar de ter poucas chances de contribuir em avanços tecnológicos eu poderia colaborar no avanço pela superação da condição moral da humanidade.
Em posse desse novo conceito comecei a perceber mudanças graduais em minha vida, o meu mundo começara a se tornar melhor. Eu passara de uma postura passiva, de esperar por mudanças, à ativa, de ter a iniciativa de mudar. Entretanto, ainda me questionava: será que essas mudanças que estou realizando em mim podem também mudar o mundo ao meu redor?
Em certa ocasião, nas férias de fim de ano, tive a oportunidade de viajar para Paraty com a minha família. A cidade tem inúmeros encantos, mas a chuva limitou nossas possibilidades. Por sorte, houve uma reviravolta climática que nos possibilitou ir à praia. No último dia decidimos visitar uma cachoeira, já que o tempo seria mais curto. Caminhamos uma pequena trilha e ao chegar à cachoeira houve um momento de silencio. O sol estava escondido pela mata, o poço era escuro e fundo, a água era fria e não havia ninguém no local.
Ao nos lembrar do dia anterior, que fora em uma praia ensolarada, com o mar quentinho e cheio de pessoas se divertindo, ficamos um pouco frustrados. Surgiu então a ideia de tentarmos ir para a praia, que era longe, e ficar só um pouquinho para depois irmos embora. Gastamos algum tempo pensando e decidimos ficar pela falta de tempo. Com o clima de frustração predominando, descemos até o nível da água e sentamos nas pedras. Ao atentar-me para meu mundo interno lembrei-me da possibilidade que eu tinha de mudar o estado de ânimo em que estava.
Sendo assim, levantei-me tirei a roupa e pulei na água. A água estava gelada, mas mesmo assim chamei todos e mostrei que estava feliz. Em seguida meu pai tomou coragem e pulou na água, atrás dele foram a minha irmã e a minha mãe. O ambiente mudou, a alegria predominou.
Para descansar um pouco, estávamos tentando subir em uma pedra com lodo no meio da água, mas estava muito escorregadia. Pegando bastante impulso, nadando e usando muita força consegui enfim subir na pedra. Depois puxei meu pai, que puxou a minha mãe e que puxou a minha irmã. Outros visitantes chegaram e, contagiados pela alegria, também entraram na água fria. Nesse momento percebi que eu poderia ser um elemento de modificação do mundo.
A mudança que mais vai repercutir na minha vida é a mudança de mim mesma. Não adianta as outras pessoas mudarem se eu continuar como estou. E cheguei à conclusão de que se eu pretendo mudar o mundo eu deveria começar por essa porção que está ao meu alcance: eu mesma.