A mediocridade atual configura uma linha ziguezagueante e curiosa, que vai desde o ensaio até a audácia. Acaso já não se viu que muitos, animados pelo volumoso acervo de noções esparzidas nas mais variadas publicações, acreditam ser possível manejar os séculos, as épocas, as culturas e os conjuntos das mais complicadas abstrações, como se se tratasse de meros conceitos perfeitamente determinados em seus alcances e conteúdos?

Por outra parte, entre os que leem muito e escrevem, estão aqueles que costumam apossar-se ingenuamente de frases e palavras, em troca do mínimo esforço que a leitura requer.

É lamentável observar a exuberância de muitas mentes ocupadas em gerar pensamentos desta ou daquela espécie, ou de ambas ao mesmo tempo, transfundidos em híbrido elemento intelectual. Todo esse enxame mental se nutre nas flores da ilusão, de onde se extrai sintético mel. 

As formosas flores da realidade jamais são vistas nos campos teóricos

No plano das altas possibilidades humanas, a realidade não permite que a ficção, por mais elevada que seja a sua artificiosa arquitetura mental, transponha os umbrais de seu mundo, onde as mentes evoluídas tomam direto e íntimo contato com as grandes concepções universais ou ideias-mães, que engendram pensamentos luminosos. 

A confusão reinante em matéria de princípios e conceitos relativos à psicologia humana faz suspeitar que nada ainda se pôde tirar como conclusão de tão trilhado e debatido tema. Isso não tem constituído obstáculo para que, nesse meio tempo, o quarto poder* e ainda o livro inundem o mundo com torrentes de frases e proposições que um dia são sustentadas com veemência e, no seguinte, substituídas por outras, novas, mais ousadas talvez, para que o barulho que provoquem se torne auspicioso para os interessados em difundi-las. Mas, quando centenas de livros e inumeráveis artigos já abordaram um tema, este se converte em algo assim como uma pedra muito gasta, sobre a qual é difícil talhar novas formas. 

A Logosofia esculpe suas esculturas sobre pedra virgem; utiliza a argila humana, porém dando-lhe consistência eterna. Descobre verdades e concretiza realidades até aqui desconhecidas a respeito da conformação psicológica do homem e do aperfeiçoamento de suas qualidades.

Diante da abundância de pensamentos desconexos, de ideias abstratas, sem apoio possível na razão que as examina; diante do entrincheiramento das velhas e das novas crenças, que não resistem a uma análise sensata e consciente, a Logosofia desfralda a bandeira revolucionária do pensamento contemporâneo, para dizer ao mundo que na mente humana, só na mente humana, se há de achar a grande chave que decifre todos os enigmas da existência.

*Observação: O quarto poder é uma expressão utilizada com conotação positiva de que a mídia (meios de comunicação de massa) exerce tanto poder e influência em relação à sociedade quanto os Três Poderes nomeados em nosso Estado Democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário). Quarto poder – Wikipédia, a enciclopédia livre

Extraído de O Mecanismo da Vida Consciente, p.18-19


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.