Não pense quem me lê, em função do título deste artigo, que escreverei usando a segunda pessoa. Ficaria pernóstico. Igualmente, se eu usasse no título a terceira pessoa. Isso porque meu objetivo, aqui, é apenas o de evidenciar a grandeza da oportunidade de ser avô, de ter netos, não me esquecendo de que “ser significa saber” e, pois, que “o saber é a razão de ser da existência do homem na Terra”.
Fui avô no ano em que completaria cinquenta e sete anos de idade, mas confesso que até viver essa experiência nunca me havia sequer imaginado nessa condição. A partir dela, porém, sou cada vez mais convicto de que tudo tem seu tempo e de que nada acontece por acaso.
Depois de ter o Vítor em meus braços, aquele pedacinho de gente que acabara de vir à Terra, tudo mudou. A vinculação metafísica, de espírito a espírito, que imediatamente se estabeleceu entre nós dois é algo que não sei manifestar por palavras; somente pelo sentir.
Vi nele a minha perpetuação; senti-me em outro patamar da existência e imediatamente fui imensamente grato a Deus pela oportunidade que me dava: de perpetuar-me; de poder observar em meu neto, aprendendo com ele, o processo da Criação, estampado em todo ser humano; o processo da passagem do homem, “homem-espírito”, pela Terra. Processo que, por falta de específicos conhecimentos, não tive como observar quando tive meus três filhos. Mas foi um tempo de aprendizado e agora, melhor preparado, poderia fazê-lo.
Dois anos mais tarde pude novamente viver essa experiência sublime: ter outro pedacinho de gente em meus braços – a Clara – e poder confirmar, pelo sentir, tudo o que havia vivido antes. O tempo, agora, era de continuar observando e aprendendo… É como se pode chegar a ser. Bem, de lá para cá, as experiências sublimes que tenho com meus dois netos se sucedem umas após outras. Sendo avô, tenho tido, dentre outras, a oportunidade de observar suas características e, por essa via, a de identificar meus erros como pai.
Ao mesmo tempo, a de resgatar por mim mesmo, via compreensão e mudança de condutas, minhas dívidas nesse campo experimental. É que, pensando um pouco mais profundamente, não há como deixar de concluir que eles são, de certa forma, a razão de minha existência, assim como eu sou a razão de meus avós terem existido. Aí, penso, uma das fases do meu processo de redenção de mim mesmo e, também, de meus próprios pais, já que “se os que hoje existem são veículos de outros, os que amanhã existirão serão veículos dos que hoje estão presentes”.
Pensar sobre isso me permite enxergar de forma mais nítida a grandeza da oportunidade de se ser avô e, ao mesmo tempo, desperta em mim enorme senso de responsabilidade. Isso porque insculpida nessa oportunidade de “ser pai duas vezes”, como se diz popularmente, a imperiosa necessidade de esforçar-me, permanentemente, para superar a mim mesmo, para me fazer cada dia mais humano e poder legar, pela palavra e pelo exemplo, essa condição aos meus filhos e aos meus netos, mesmo que eles não percebam nem entendam, por ora, a herança que estão recebendo.
Por isso, ajudando seus pais – nunca tentando substituí-los –, é preciso que eu saiba corrigi-los. Por outras palavras, é preciso que eu saiba ensinar-lhes, oportuna e sensatamente, aquilo que ainda não tenham aprendido bem. Os avós, compreendo hoje, devem, sim, fazer muitas coisas pelos seus netos, para que estejam e cresçam sempre contentes, felizes; mas precisam, também, ensiná-los a se portarem bem. Essa é mais uma forma, sei hoje, de irmos depurando nossa própria herança individual e, ao mesmo tempo, nossa própria linha hereditária.
Afinal, “à criança que cometer erros, se lhe ensina perdoando-lhe seus erros, perdoando-lhe suas faltas, ou corrigindo como merece, para que depois, sendo homem, recorde com verdadeiro amor a mão firme que a corrigiu? E a outra, a que foi perdoada, recorde com mágoa a mão dócil que a deixou continuar em seus equívocos?” Convido-os a pensar sobre isso.