Dezembro se aproxima. Frequentemente, comenta-se que o ano passou rápido, entretanto o dia continua tendo as mesmas vinte e quatro horas que possuía quando éramos crianças — época em que nossos aniversários pareciam ter intervalos maiores que os de hoje. O que mudou desde então? O que nos leva a ter essa sensação de que não se pode parar o tempo, que o tempo é implacável? Não seria um contrassenso procurar maneiras de matar o tempo, quando este é simultaneamente tão precioso e almejado? Como podemos tornar nossos dias proveitosos e férteis?
Fiz essas reflexões durante um engarrafamento no trajeto da empresa até minha residência. Como não adiantava ficar impaciente, transformei aquele momento em uma oportunidade para refletir sobre a vida, como a tenho conduzido e em que preciso mudar. Recordei-me então de um filme em que o protagonista interpreta um personagem que vive situações distintas: enquanto recebe a feliz notícia de que será pai pela primeira vez, descobre também que está com uma doença terminal. Ao saber que pode morrer, sem conhecer o filho, decide gravar um filme para que sua esposa mostre a ele quando crescer. Muitas das cenas foram gravadas dentro do carro, o que provavelmente me estimulou a recordar desse fato.
Eu e minha esposa, desde que soubemos da gravidez de trigêmeos, decidimos escrever um caderno com mensagens para eles. Queríamos deixar registrado o que vivíamos enquanto os esperávamos. Basicamente, fizemos narrativas de nossas lutas, para proporcionar a eles uma realidade melhor que a nossa em todos os sentidos – física, psicológica e espiritualmente. Dessas lutas, procuramos extrair elementos que serão úteis não só para eles, mas para toda a família. Essa espera foi muito especial e nos proporcionou viver este ano repleto de momentos felizes e de grandes expectativas!
Quase todos os dias, costumo registrar minhas experiências de vida, pensamentos, ideias, projetos. Essa prática favorece a análise do que tenho vivido e registrado em minha consciência, pois manter em nossas mentes os momentos de alegria ou felicidade estimula o surgimento de um sentimento que amplia a vida: a gratidão; gratidão a nós mesmos e aos seres que, de certa maneira e num momento oportuno, muito nos auxiliaram.
Recentemente, na volta de uma visita em companhia de minha mãe, tive a oportunidade de ouvir dela pela primeira vez relatos de vivências da minha infância, que transformaram aquele pequeno instante num momento muito precioso que passou a integrar minha vida. Naquela simples conversa, pude extrair elementos que dão conteúdo a momentos do passado e que se incorporam ao presente, ampliando minha trajetória. Concluí então que, ao estender nossa vida na dos demais, temos a prerrogativa de dar-lhe um novo significado.