Cresci vendo desenhos na televisão, e os meus programas preferidos eram do Chaves e do Chapolin. Gostava do herói principalmente pela sua maneira atrapalhada e pouco eficiente de salvar quem lhe pedia ajuda. Sabia que ele era incapaz de salvar alguém, mas, mesmo assim, a imagem de um protetor que pudesse me livrar de todos os males me agradava e ela foi se formando na minha mente de criança.
A imagem de um salvador, do herói que pode me defender de todo o mal, me acompanhou por muitos anos. Em alguns momentos, o identificava nos personagens dos desenhos, mas em algumas situações também o reconhecia em meus pais, em Deus…
Contra o mal “externo”, o cometido por outras pessoas, algum herói poderia me salvar, mas quem iria me salvar do mal “interno”, o que nasce em minha mente e se materializa em minhas atitudes no mundo?
Quando temos poucas experiências de vida, vemos o mal em coisas facilmente identificáveis, como a delinquência ou a violência entre as pessoas. Com o passar dos anos, vamos entendendo que o mal se manifesta de muitas maneiras, até mesmo em ações de pessoas que não queriam fazê-lo. E vem a pergunta: O que nos leva a agir de uma forma que contraria nossa vontade?
A partir dos estudos logosóficos, aprendi que na mente humana são geradas entidades psicológicas capazes de ter vida própria, reproduzir-se e agir segundo a vontade da pessoa ou independente dela. O conhecimento de tais entidades, denominadas pensamentos, é a chave para entender que a origem de todas as nossas ações – sejam elas de bem ou de mal – está na mente.
Dessa forma, o perigo de acreditar em um herói é que isso te exime da responsabilidade pelo mal que você causa, situação que passei a observar em minha vida.
Certa vez, durante o Ensino Médio, deixei para estudar na última hora para uma prova importante, porque havia ficado muito tempo vendo televisão. Como consequência lógica, não tive uma boa nota e os pensamentos em minha mente insistiam em me fazer acreditar que a culpa não era minha. Naquele mesmo dia, minha mãe tinha me pedido para realizar algumas tarefas em casa, portanto, acreditei que ela havia tirado de mim todo o tempo que eu deveria dedicar aos meus estudos.
Por que minha mãe é que era a culpada por meus atos? Eu não era capaz de assumir minhas responsabilidades de estudante?
Ao agir assim, eu estava causando um mal a mim mesma, pois ao culpar outra pessoa pelas consequências negativas do mau uso do meu tempo, não pude aprender com a experiência, o que evitaria que a mesma situação se repetisse em outros momentos da minha vida.
Muitas vezes, vemos os nossos problemas como responsabilidade de outra pessoa. Por que não procuramos em nós as causas desses problemas? Por que ficamos esperando um salvador que venha nos livrar e defender do mal que tem origem em nós mesmos?
Ver-se como vítima dos demais pode nos levar a uma posição passiva frente à vida, à espera de um herói que não vai chegar.
Demorei muito a entender que somente eu mesma posso me salvar e que, inclusive, já possuo as ferramentas para isso, embora tenha ignorado essa realidade por tanto tempo.
A partir do estudo da minha própria realidade interna, pautado nos conhecimentos da Logosofia, compreendo que sou responsável pelas atitudes de bem e de mal que gero em minha vida. Sei, com toda certeza, que devo trocar o velho bordão “quem poderá me defender?” por “quem deverá me defender?”, pois estou conhecendo uma nova protagonista: eu mesma.