Estimado leitor,

Há muito queria lhe confidenciar algo muito especial. Fique tranquilo, pois não se trata de uma inconfidência ou indiscrição com outrem, ou comigo mesma. Mas é algo que sempre percebo nos estudantes de Logosofia. Um denominador comum que se apresenta como um motivo e um estímulo poderoso — um motor que mantém em movimento o caminhar por esse processo de evolução consciente e de autoconhecimento instituído pelo autor dessa Ciência.

Não vou me fazer de rogada, nem é minha pretensão torturar ninguém pela expectativa de uma revelação.

O que venho aqui tratar é da felicidade que sinto, e que também observo em outros que partilham desses estudos, quando conseguimos vislumbrar uma deficiência psicológica em nós mesmos. Mais ainda: quando, apesar de arisca, conseguimos identificá-la, classificá-la, estudá-la e, com o tempo, abrandá-la.

É comum que uma deficiência não tenha carreira solo. Com frequência quase sistemática, aparece em bandos, faz arruaças e desmandos na nossa mente. Comum que se travistam de outros pensamentos. Nos enganam, traem nossa vontade e nossos melhores propósitos. Costumamos ficar à mercê delas e nos vemos então como verdadeiros barcos à deriva, sem comando e com destino incerto. Deficiências são falsárias, estelionatárias que se aproveitam do desconhecimento que temos de nós mesmos, muitas vezes nos fazendo crer que possa haver algum benefício em mantê-las ou que, pelo menos, não haveria prejuízo algum em poupar uma ou outra. Afinal, ninguém é perfeito, não é mesmo?

Essa condescendência com as próprias deficiências é quase que natural, mas é um pacto perigoso que se pode fazer e que pode desaguar numa torrente incontrolável.

Pois bem!

Não seria contraditório então se sentir feliz em se reconhecer com esta ou aquela deficiência? Quem, em sã consciência, poderia se vangloriar de se encontrar imperfeito ou, para ser mais direta, repleto de defeitos?

Não, caro leitor, a alegria não está aí. Mas, se ajustarmos um pouco o foco, vamos descobrir que ela reside na possibilidade de, em surpreendendo uma e outra deficiência, podermos ir minando o terreno que favorece sua manifestação. Como? Através do método próprio¹ e dos ensinamentos esparzidos na vasta bibliografia logosófica.

Quem, aos poucos, vai experimentando essa nova realidade, vai conquistando uma alegria realmente muito especial. Uma alegria comovente que nos inunda por dentro, sem necessitar de grandes e fartas gargalhadas. Uma alegria que inebria a alma e procura naturalmente uma expansão. Contudo, a expansão de que necessitamos nada mais é do que compartilhar com os outros a fonte e o acesso a esse caminho de bem.

 

1 – Livro: Logosofia, Ciência e Método

O quadro das deficiências que a criatura humana apresenta, desde que nasce até o final de sua velhice, poderia parecer desalentador. Entretanto, isso não deve abater o ânimo, porquanto é preferível conhecer que inimigos temos dentro, para combatê-los com lucidez mental, a ignorá-los, enquanto ficamos à mercê de sua influência despótica, suportando docilmente a maioria dos desgostos e depressões que diariamente nos acarretam. DPSH