Todo ano é a mesma coisa: “os dias estão voando!”; “nossa, já estamos no meio do ano!”; “o ano acabou e nem vi passar!”. As pessoas reclamam que o tempo está passando cada vez mais rápido e mal conseguem perceber a sua passagem.
Em paralelo a isso, cada vez mais pessoas se queixam da falta de tempo para fazer o que querem e até o que precisam. Sentem-se pressionadas por preocupações de toda ordem; vivem ansiosas e impacientes. Parece que as atividades diárias não estão mais cabendo dentro do dia, como se estes estivessem mais curtos…
Apesar de o tempo físico não ser absoluto para todos os observadores, conforme as leis e teorias da física, em nosso planeta ele passa de forma praticamente igual para todos os seres. Além disso, não há evidências científicas de alterações perceptíveis em seu ritmo nos últimos anos e décadas.
Então, por que as pessoas têm a sensação de que o tempo passa cada vez mais rápido?
O autor da Logosofia apresenta uma explicação bastante plausível para esse fenômeno – simples, mas poderosa:
o tempo é a essência oculta da vida; é a própria vida em todo o seu percurso. (Logosofia, Ciência e Método, p.134)
Se a vida se substancia no tempo, então o tempo perdido é vida que se perde, isto é, não vivida em plenitude. Isso acontece quando não se faz nada, quando se está distraído ou apático, quando a mente divaga ou não pensa, mas também quando as preocupações da vida comum ocupam mais espaço do que o necessário na vida mental, deixando pouco ou nenhum espaço para questões de ordem superior.
Esses momentos da vida são tão irrelevantes que as pessoas nem os registram em suas memórias, pois não merecem sequer a honra de serem lembrados. Por isso, parece que a vida é cheia de buracos de tempo não vivido. E, ao reunir todos os pedaços de vida que realmente merecem recordação, resta tão pouco que dá a sensação de que o tempo passou voando, quando, na verdade, foi a própria vida que encolheu.
Compreendi melhor isso quando refleti sobre uma vez em que maratonei uma série em um serviço de streaming durante um fim de semana. Passados alguns meses, eu mal conseguia me lembrar do nome da série, e menos ainda do enredo e dos personagens. Foi como se eu tivesse apagado aquele fim de semana da minha vida, de tão insignificante que ele foi para a minha existência.
Hoje em dia, há cada vez mais distrações que fazem as pessoas gastarem seu tempo: redes sociais, canais de streaming, videogames, shows e todo tipo de entretenimento. É fácil se deixar levar pelos prazeres comuns da vida, mas o preço pode ser muito alto: um vazio angustiante e uma vida estéril e sem propósito.
Da mesma forma, os seres mergulhados em seus deveres profissionais consomem grande parte da vida em busca do breve momento de satisfação pelo cumprimento de suas tarefas, deixando-se aprisionar pela intensidade desses tempos transitórios. Desse modo, transformam a vida numa mera sucessão de deveres cumpridos e alimentam o mesmo vazio angustiante de todos que não têm consciência do valor do tempo.
Antes de ingressar na Fundação, eu já estava formado, casado, empregado e progredindo na carreira, mas sofria desse mesmo mal do vazio angustiante, vivendo uma vida meramente material, sem qualquer propósito superior para minha existência. Diante dos conhecimentos transcendentes aos quais fui apresentado pela Logosofia, passei a compreender o que é viver na plenitude, aproveitando melhor o tempo que ainda tinha pela frente.
Tenho aprendido com o estudo logosófico que o tempo é um dos agentes de maior importância no caminho do aperfeiçoamento, e sua administração é um fator preponderante para a vida. Para bem aproveitá-lo, deve-se viver conscientemente, mantendo em tudo que se faz uma permanente atenção.
O autor da Logosofia não ensina a abstinência dos prazeres materiais, nem despreza as preocupações comuns, mas aconselha a não se deter nelas além do necessário, para que parte crescente do tempo da vida seja dedicada às satisfações perenes que as preocupações de ordem espiritual oferecem.
Enquanto a ignorância limita e oprime o tempo, todo conhecimento tem o poder de economizá-lo. Se um conhecimento comum pode ampliar o tempo necessário para realizar uma tarefa, o conhecimento transcendente ensinado pelo autor da Logosofia, por sua universalidade, promove uma expansão do tempo em todas as esferas da vida. O tempo se oferece generosamente na medida da capacidade criadora e realizadora de cada um, podendo se expandir ilimitadamente até culminar no tempo eterno.
Um recurso de grande valor que aprendi estudando Logosofia e venho aplicando na minha vida é a união dos tempos de metade. Nela, recordam-se e ordenam-se os tempos da vida, unindo entre si os de igual natureza, para que se possa viver conscientemente as várias vidas simultâneas que formam a existência. Assim, uno os tempos em que estou com a minha família, com meus amigos, no trabalho, estudando Logosofia… Isso me permite comprovar como tenho usado o tempo de cada vida que vivo, inclusive dos momentos de distrações e trivialidades, para compreender o quanto já perdi – e ainda perco – de tempo, e assim aproveitar melhor o meu futuro por viver.
Assim como o vazio angustiante, a sensação de que o tempo passa rápido demais pode ser outro sintoma das exigências não atendidas do espírito, que se ressente e reclama por atenção e tempo do ente físico para suas realizações evolutivas. Por isso, não se deve ignorar essa sensação nem banalizá-la. Pelo contrário, é preciso buscar sua causa no mundo interno por meio do conhecimento de si mesmo que a Logosofia ensina a cultivar.
Quando se leva uma vida comum, sem consciência das próprias obras, fica-se sujeito à pressão do tempo físico, limitado pela própria ignorância. Mas, quando se vive sob a égide da consciência, os conhecimentos superiores que lhe pertencem enriquecem a vida com elementos para aproveitar o tempo com inteligência. Esse tempo se amplia plenamente, para que se cumpram as finalidades superiores da existência: evoluir até a perfeição e ser um verdadeiro servidor da humanidade.