Nunca gostei de reuniões com muita gente, sobretudo com pessoas estranhas. Temia que descobrissem minhas fraquezas, a ignorância e, pior, a timidez, desmascarando a falsidade de ser aquilo que eu não era e ferindo de morte o meu orgulho. Daí que sempre me sentava próximo a alguma rota de fuga por onde pudesse escapar ao primeiro sinal de perigo.
Naturalmente, fui obrigado a apresentar trabalhos e a expor-me. Cumpria apenas o estritamente necessário e com muito sofrimento. Na semana que precedia o evento, ficava sem dormir, passando e repassando o texto decorado. Sentia-me acuado; minha fala saía atropelada, mecânica, e, possivelmente, o que eu dizia não era compreendido. Havia um toque de arrogância de quem tenta esconder a insegurança.
O problema é que eu não sabia ser diferente, e seguia dissimulando as fraquezas sem nunca as superar. Não tinha onde aprender. Não se aprende sobre comportamentos mais adequados, no cotidiano de nossa cultura. Sempre há aqueles que tentam ensinar alguma coisa, mas a solução fica na superfície do problema. Ninguém ensina sobre as causas das dificuldades e quais são os fatores e os agentes que nos dominam e impedem de agir corretamente.
No início do século passado, González Pecotche apresentou a Logosofia, sua concepção e seu método, que nos permitem acessar nosso mundo interno com suas riquezas e possibilidades. Essa realidade está apenas aguardando o momento de ser descoberta, quando, por meio do esforço de nos superarmos, herdaremos os bens que a natureza espiritual guardou para nós.
Hoje, olhando para trás, percebo quanto tempo perdi e o quanto poderia ter avançado agindo de acordo com esses conhecimentos, de uma forma mais natural, verdadeira e humana.
A vida pode ser vista como uma peça de teatro para a qual fomos convidados. Ali podemos ser espectadores ou atores. Como espectadores, cabe-nos o prazer do espetáculo, a admiração e o aplauso; como atores, vive-se a ação, o protagonismo e a glória. Há ainda os que assistem pela TV, com o privilégio da comodidade e, no anonimato, usufruem de forma muito limitada o que lhes oferece a vida. Minha realidade era a desses últimos.
Certa vez, tomei coragem e subi ao palco. Subi por uma necessidade interna, porque é frustrante passar a vida escondendo-se, sem experimentar o que está à nossa disposição. Aprendi com a Logosofia muitas ferramentas para viver de outra forma e eu tinha de experimentar. Sabia ter algo bom para mostrar ao mundo, havia algo bom dentro de mim que queria se libertar e servir aos demais. A certeza de levar um bem, algo que ninguém havia mostrado — não por ser inédito, mas por ser meu, foi o suficiente.
O temor se dissipou e falei, com todo meu ser e coração. Minha fala soou forte e oportuna, soou perfeita. Estava ali não um super-homem, mas alguém tão simples e humano como os melhores. E, na expressão de minhas próprias palavras, pude observar uma naturalidade e um gosto que só pude talvez experimentar em sonhos. E conheci-me ali, na luta por ser melhor — no exato momento em que falava.