O exemplo acima está ligado diretamente a algo externo, mas e quando a decisão se relaciona a algo interno?
Vejamos agora o seguinte exemplo, há mais ou menos seis anos atrás, decidi que faria exercício pelo menos quatro vezes na semana, pois todos nós sabemos que, para se ter uma vida saudável, precisamos comer direito, dormir direito e praticar exercícios, certo?
Porém, passados alguns meses, comecei a deixar tal decisão e propósito se diluírem, como se fossem perdendo força dentro do meu querer. De quatro vezes, passei para três, sem perceber, reduzi para duas vezes na semana, até que, por algum motivo de que não me recordo, parei de fazer exercícios. Esse processo todo deve ter durado uns três meses.
Refletindo sobre esse caso, percebi que, por muitas vezes, deixei de cumprir com algo que era meu propósito, algo que tinha definido para mim mesmo, buscando meu bem- estar e saúde.
Esse é um exemplo simples, mas poderia citar muitos outros, como começar uma dieta na segunda-feira e interrompê-la na quinta, praticar artes marciais e desistir antes de pegar a faixa preta, ou mesmo me matricular em um curso de espanhol e largar no meio.
Por que isso acontece? Onde estava meu livre-arbítrio nessa hora? De fato, fui eu que decidi, por alguma razão, não cumprir com meu objetivo, mas de onde veio essa vontade que vai contra meu propósito?
Nessa situação que vivi, não consegui exercer a liberdade de pensar, fui contra um propósito que eu mesmo tinha estabelecido, ou seja, o que houve foi praticamente uma auto-sabotagem. Isso já aconteceu com você?
“Analisando-se o caso da indecisão, vê-se que muitas vezes ela procede de causas alheias à vontade do indivíduo. Este tem, por exemplo, a ideia de fazer algo, quer dizer, concebeu essa ideia; depois acaricia ou, melhor ainda, sente-se acariciado pela ilusão da ideia realizada; porém, eis então que, em vez de pôr mãos à obra, é tomado pelo temor de não saber concretizá-la na realidade e, ante a visão do fracasso, detém seus pensamentos e restringe sua vontade. Não obstante, a ideia está ali, em sua mente, acicatando-lhe o desejo até empurrá-lo à ação, a qual novamente é detida por outros pensamentos que lhe falam de sua incapacidade.
Como se pode explicar, nessas condições, o exercício do livre-arbítrio? Em tal circunstância, o indivíduo é, por acaso, dono de sua vontade?
A indecisão pode provir da abstenção na escolha entre duas ideias ou modos de proceder. Neste caso, que papel desempenharia a razão, se não é capaz de discernir qual delas é a mais conveniente? É evidente que a razão, para atuar, deve ter-se nutrido no conhecimento do que haverá de julgar. Sem ele, a razão se debilita e fica, portanto, inabilitada para exercer sua função discernidora.
A situação exposta deve conduzir o pensamento à convicção de que a razão requer ser sustentada por amplos conhecimentos, enquanto a inteligência elabora, por sua parte, as ideias que em seguida haverá de submeter a seu juízo.
Comumente se diz que alguém venceu a indecisão porque, em determinada circunstância, escolheu tal ou qual forma de proceder e levou a ideia à ação sem mais pensar. Este não é, porém, o caso que esclareceria a questão ou eliminaria a deficiência, porquanto a indecisão é considerada uma resistência íntima que se opõe à realização de um projeto concebido ou a uma determinação, o que, como fica demonstrado, não é assim, pois a bem da verdade não existe nenhuma resistência; só se trata de uma opção, para cujo uso se requer a convicção prévia da segurança que a ideia a escolher oferece. Em tal circunstância, deverá pronunciar-se a razão; se isto ocorrer, não haverá paralisação dos pensamentos, inibidos de atuar porque a vontade do ser não lhes deu vida nem ação.”
“Todo homem que nasce livre e concebe a liberdade como genuína expressão dos direitos humanos e como a mais alta expressão do conteúdo da própria vida, não pode aceitar que, enquanto seu corpo se move e anda livremente, sua razão e sua consciência permaneçam encarceradas ou, no melhor dos casos, gozem de uma liberdade condicional.”
Uma vez li em uma camiseta a seguinte frase: Você é aquilo que você come. Porém, eu prefiro a versão: Você é aquilo que acredita, que tem como conceitos e valores.
A vida é construída através de escolhas que vamos tomando diariamente, e a consequência de tudo o que acontece nela são reflexos dessas decisões diárias.
A pergunta que fica é: essas escolhas estão sendo feitas de forma consciente?
*Ensinamentos do livro Coletânea da Revista Logosófica – Tomo 2