Dizem que quando nasce um filho, nasce também uma mãe.
Não sei se é possível afirmar que o amor pelos filhos nasce em um mesmo momento para todas as mulheres, mas o fato é que, uma vez que se forma, esse mesmo sentimento nos faz querer ser a melhor mãe que podemos para nossos filhos; quase que, diria, uma mãe ideal!
A Logosofia conceitua o amor não apenas como um sentimento que se sente, mas como uma força que pode nos mover a buscar a nossa melhor parte para oferecer ao outro, que nos move a trabalhar em silêncio pelo bem e para o bem, que nos move a ser melhor…
Mas como se vai formando, dentro de cada uma de nós, a imagem dessa mãe ideal? Da observação de nossas próprias mães? De nossas avós? De outras mães que conhecemos e que se tornaram referência por suas atitudes? Das personagens maternas de filmes e livros?
No início da minha gestação, eu tinha uma imagem da mãe que eu queria ser e parte dela incluía ter um parto normal e poder amamentar.
Eu me preparei muito para viver a experiência, conforme a imagem com que eu tanto me identificava, mas, apesar do meu esforço, não foi possível.
A frustração diante dos planos fez com que eu me sentisse culpada e muito distante da imagem que eu havia plasmado para mim como ideal.
Por outro lado, ver meu filho crescer saudável me fazia sentir uma gratidão imensa por tudo o que favorecia seu crescimento. Essa ambiguidade de sentimentos me fazia refletir:
“será possível eu sofrer tanto por causa do tipo de leite e de parto, se meu filho está tão bem? Afinal de contas, onde será que está a imagem ideal da mãe?”
Movida em parte por essas reflexões e em parte pela necessidade de preencher o vazio de uma imagem que não se sustentava mais com a realidade que se apresentava, comecei a sentir que até então tinha buscado a imagem da mãe que queria ser mas no lugar errado, que o tipo de leite ou de parto eram insuficientes, e que me falavam menos ainda sobre o amor que eu sentia por meu filho.
Na mesma época, ao ler o livro O Senhor de Sándara, eu me deparei com o trecho em que o protagonista relata que perdeu sua mãe na infância e que sentiu falta desse amor por toda sua vida.
Isso o fez buscar a imagem de sua mãe por todas as partes, o que o levou a pensar que nem tudo está na forma física das pessoas, e que deveria aprofundar ainda mais a busca pela imagem da sua mãe na imensidão dos mundos.
Foi quando ele encontrou sua mãe, não mais em sua figura física, mas na representação simbólica e na excelência de sua função espiritual, mesclando a alma da sua mãe com a de todas as mães.
Ao ler esse trecho, senti uma profunda emoção e me perguntei se não é por esse motivo que nos identificamos tanto com o sentir de outras mães, porque talvez, em todas elas, esteja manifestada essa excelência de sua função espiritual, e isso nos faz sentir uma só.
Essas reflexões me fizeram sair da perspectiva limitada que eu tinha e entender que o amor que eu sinto me faz buscar o melhor de mim para oferecer a meu filho, como também que posso buscar esse melhor não somente nas questões físicas do cuidado, mas especialmente nessa função espiritual da mãe, que não está neste mundo físico, e sim no mundo metafísico…
Essa foi apenas a primeira das muitas descobertas que vieram depois, porque ela jogou luz num caminho que deveria percorrer como mãe — não mais para fora, mas agora para dentro de mim mesma, buscando, no conhecimento de mim mesma e no aperfeiçoamento das minhas qualidades, as chaves para o descobrimento dessa função espiritual.