De onde estava podia ouvir as risadas, a gritaria e até a “torcida” que meu filho e seu amigo faziam enquanto assistiam na TV a um eletrizante filme de ação.
“Parecem duas crianças”, pensei, “mas já são jovens e amigos de longa data!”.
Na hora do lanche, nós três à mesa, divergíamos sobre vários aspectos do filme, que eu também já assistira. Nossa conversa era entremeada por risos e algumas considerações.
Meu filho teve que ausentar-se da mesa por algum motivo e, nessa hora, fui surpreendida pela afirmação do jovem dizendo que consentia com o vilão do filme. Justificou dizendo que ele também, frente a contrariedades ou frustrações, tinha verdadeiras “crises de raiva.”
Como sentia por ele uma grande amizade e sabia da grande consideração que ele nos dedicava, perguntei sorrindo:
-Como é que é? E ele respondeu que ficava com vontade de dar uns socos, até desejando que algo de mal ocorresse com a pessoa que o irritava.
-Mas a verdade, disse, é que eu não gosto de agir assim, de ter esses pensamentos, mas não sei o que fazer para mudar essa característica. E perguntou-me o que eu achava.
Tranquilamente disse-lhe que nós, seres humanos, temos uma mente e que com ela podemos alcançar possibilidades inimagináveis, ao fazer uso atento e harmonioso de todas as suas capacidades, como a de pensar, refletir e observar. Desconhecendo essa nossa realidade psicológica acabamos agindo unicamente movidos pelas nossas características mais instintivas, sem levar em consideração nossa capacidade mental e também sensível.
Observando o crescente interesse, continuei…
Frente a toda situação que vivemos, podemos e devemos observar, analisar, e ouvir nosso sentir, equilibrando, assim, nossas atuações. Outro dia mesmo, após me sentir muito contrariada por ter uma ideia minha descartada por alguém, respondi, internamente, com intolerância, impaciência e até com um misto de raiva e agressividade.
Antes de explodir, recordei-me de um estudo logosófico feito recentemente sobre a atuação da natureza instintiva. Estava com muitos elementos norteadores na minha mente e pude perceber a tempo que era essa natureza instintiva que queria comandar. Buscando me serenar com a participação da minha sensibilidade, pude pensar no outro com afeto, tolerância, e até gratidão, alertando-me que assim acabaria não agindo bem. Refleti e pude compreender que toda aquela situação havia sido criada pela minha insistência em querer que tudo fosse feito do meu jeito, sem levar em consideração a vontade do outro.
Senti seu ar de aprovação que parecia indagar mais…
Disse-lhe que, ao observar minha mente, ela, com o auxílio da sensibilidade, me levava a fazer escolhas mais acertadas, ter melhores pensamentos, principalmente quando já havia identificado as causas que me levavam a agir intempestivamente.
Esse imenso poder que possuímos de optar por qual comportamento seguir está diretamente relacionado com nossa condição de humano, sabia? Pois somos uma parte única da Criação que tem os maravilhosos sistemas mental e sensível, e um espírito que nos humaniza e nos faz aspirar por condutas mais conscientes.
Sua fisionomia foi suavizando e ele expressou com alívio que estava começando a compreender o que se passava com ele naqueles momentos… Entendeu que aquele comportamento estava ocorrendo por desconhecer suas potencialidades e que se esforçaria para conhecê-las, e corresponder ao verdadeiro ser humano que habitava dentro de si.
Com o retorno do meu filho, terminamos ali nossa conversa, e percebi que aquele filme havia sido até muito bem escolhido!