Dias passados, fazendo uma reflexão de certas passagens da minha vida, detive-me em uma delas que, analisando agora por um prisma diferente, pareceu-me bem interessante.
Recordei das minhas reflexões do tempo de adolescência, quando ouvia falar de seres com características virtuosas. Eram seres de grandes virtudes que, ao falarem de suas vidas virtuosas, demonstravam muita compaixão por terem tido vidas difíceis, de muito sacrifício, etc.
Na minha jovem mente adolescente iam formando-se estas imagens que tampouco me agradavam. Percebi que não seria esse o tipo de vida que eu queria para mim — uma vida tão sacrificada! Sendo assim, concluí que virtudes não seriam o foco principal da minha vida. Queria viver de maneira completamente diferente daqueles seres. Não tinha a pretensão de ser virtuosa, pois este não me parecia ser um objetivo bom e realizável. A vida deveria ser mais simples e mais desfrutável.
O tempo foi passando, a vida foi se desenvolvendo, cumprindo todas as etapas de sua evolução física, até que chegou a fase adulta e, junto com ela, todo o resultado obtido através do transcorrer dos anos: profissão acertada, casamento em dia, filhas abençoadas, mas um ponto não estava resolvido. O que será que me faltava?
Vieram então as buscas por algo que preenchesse aquele vazio. Foram muitas incursões em várias instituições até que, por fim, surgiu algo que me satisfazia por completo. Estou falando da minha chegada à Fundação Logosófica.
Muitos estudos, muitas reuniões, muitas alegrias, preenchimento total do antigo vazio e a certeza de estar pela primeira vez num caminho seguro e firme em direção às altas verdades que formam a Vida Universal.
Em um determinado ponto do caminho evolutivo, eu me deparei com este ensinamento:
‘Não se deve esquecer que as virtudes são forças que criam o verdadeiro estímulo da vida; são as que fortificam o espírito em todos os momentos difíceis, nos quais a resistência humana parece chegar ao fim. Em tais circunstâncias, e em virtude dessas forças, o ser humano encontra alento e estímulo para triunfar nas lutas’. (Introdução ao Conhecimento Logosófico, página 301)
Observei que eu tinha um conceito completamente equivocado em relação às virtudes, pois o ensinamento me ensinou que as virtudes são importantíssimas na vida, porque são forças construtivas necessárias para o desenvolvimento do anelo de superação, e que é necessário um esforço de minha parte para conquistá-las. Mas o que mais me impressionou é que elas são um alento e estímulo para triunfar nas lutas. Então me perguntei: como vou poder viver sem virtudes, sendo elas que me defenderão e me estimularão para seguir no caminho da evolução?
Compreendi, depois que mudei o conceito que tinha sobre as virtudes, que, para evoluirmos percorrendo o caminho do processo de evolução consciente, devemos blindar nossa mente contra tudo o que, penetrando nela, possa nos desviar do nosso caminhar, dos nossos propósitos e objetivos; e um dos elementos que devemos favorecer para o sucesso dessa missão é a criação das virtudes que não possuímos e também o aperfeiçoamento das que já fazem parte de nossa psicologia.
Então, por que ser virtuoso? Por que devo cultivar as virtudes na minha vida?
Será que este cultivo só servirá para parecer boazinha diante dos demais? Para não maltratar os animais?
Percebi que há algo muito maior em relação ao cultivo das virtudes. Elas deverão participar da minha vida para me defender contra todo pensamento que me desvie do propósito que quero alcançar. E qual será este propósito?
Depois de alguns anos de estudos de Logosofia, compreendi que o ser humano é dotado de um maravilhoso sistema mental, que tem como objetivo ter acesso aos conhecimentos superiores, e estes conhecimentos superiores me levam a conhecer o mundo metafísico — “âmbito natural das ideias, dos pensamentos e da energia supremos que palpitam no existir de toda a Criação” (O livro o Espírito p. 52). Compreendi então que as virtudes, como forças que nos irão ajudar a percorrer esse caminho, defendendo-nos e alimentando-nos para que possamos atingir tal objetivo. Somente sendo virtuoso terei condições de, um dia, penetrar esse maravilhoso mundo metafísico e me conectar com meu próprio espírito — único enlace realizável entre o ser humano e seu Criador —, e ter condições de compreender os mistérios com que Deus concebeu toda a Criação.