Um dos conceitos que mais tem me chamado a atenção no estudo da Logosofia, pela originalidade de seu conteúdo, é o de personalidade.

Cresci escutando esse termo como equivalente a uma característica positiva. Ouvia dos familiares mais próximos que eu tinha personalidade forte e isso, para mim, era um elogio.

Ao tomar contato com a Logosofia, deparei-me com o seguinte ensinamento:

“A formação consciente da individualidade responde inexoravelmente aos altos fins da evolução do homem. Ninguém deixará de reconhecer, como prova irrefutável, o fato de que ele (o homem) se tem ocupado, exclusivamente, de sua personalidade, isto é, de seu ser físico, de sua figura estética, de sua educação e cultura refinadamente condicionadas ao externo, buscando sempre a exaltação de seu conceito pessoal diante dos semelhantes. Ambição, vaidade, orgulho, brilho, renome, superficialidade são alguns dos heterogêneos ingredientes constitutivos da pessoa. Muitos confundem o termo “personalidade” com senhorio, autoridade moral, prodígio nas letras, nas artes ou no próprio saber, sem advertir que jamais a grandeza de alma pode abrigar-se na pequenez intolerável da mesquinha personalidade humana.

A individualidade, ao contrário, é fruto da evolução, do cultivo constante das qualidades morais e psicológicas latentes no ser. Mas é, antes de tudo, quando se forma conscientemente, o espírito mesmo emergindo do interior da própria existência. Esta é a razão pela qual a Logosofia conduz o homem ao conhecimento de si mesmo mediante a formação consciente de sua individualidade, pois não existe outro caminho nem outra maneira de encará-lo seriamente, para alcançar tão nobre objetivo.” (Curso de Iniciação Logosófica, §§ 88 e 89).

“Jamais a grandeza da alma pode abrigar-se na pequenez intolerável da mesquinha personalidade”!

Como assim?

A personalidade não é o que me torna grande, o que me faz um ser admirável e respeitável frente aos demais? Era o que eu pensava.

No entanto, ao longo dos meus estudos, fui percebendo que justamente ela, a personalidade, era quem me deixava mais frágil frente aos semelhantes.

Causava-me verdadeiro sofrimento observar que nem sempre eu era tratada e estimada como gostaria. Eu reagia, embora nem sempre exteriorizasse, quando esperava dos seres mais próximos uma atitude que eles

não tinham, ou, simplesmente, quando era contrariada em meus gostos e preferências — e, pasmem, incomodava-me o convívio com pessoas que tivessem hábitos diferentes dos meus.

Resultado: eu vivia incomodada!

Fui percebendo que essa personalidade forte, que diziam que eu tinha, era justamente o que me deixava mais débil, pois, como ela era composta de ingredientes cultivados para exaltar meu ser perante os demais, era facilmente derrubada ou afetada quando essa exaltação não correspondia às minhas expectativas.

Descobri, então, que o que eu deveria cultivar era a individualidade — outro conceito que a Logosofia me ensinou a compreender e a aplicar na minha vida.

A individualidade seria o conjunto de ingredientes cultivados conscientemente no meu interno – as qualidades morais e psicológicas que estavam latentes no meu ser. Só que, nesse caso, eu não precisava ter como foco a exaltação do meu ser frente aos semelhantes, mas sim o meu real aperfeiçoamento, a partir do cultivo das virtudes que me fariam um ser melhor para mim e para os demais, um ser melhor do que eu mesma e não que os demais.

Para levar a realidade dessa compreensão para a minha vida, fiz uso do seguinte propósito: toda vez que identificasse na minha mente um pensamento de reação diante do meu semelhante, perguntaria a mim mesma quem estaria reagindo: a personalidade ou a individualidade?

As respostas sempre foram as mesmas: a personalidade. Simplesmente porque é ela que é vulnerável e me faz dependente da aprovação dos semelhantes.

A personalidade, que é composta de elementos artificiais e não reais, leva-me a desejar ser mais do que eu realmente sou, como o autor da Logosofia revela no trecho deste outro ensinamento:

“É um propósito comum querer ser algo mais do que se é; mas a maioria anula a si mesmo porque, em vez de ser, aparenta ser. Se é, pois, um ser em aparência. Isto obriga, como é natural, a modificar de forma fictícia a conduta e a atuar artificialmente, mantendo deste modo uma situação que não é real”.(Introdução ao Conhecimento Logosófico, 444).

O próprio autor, na sequência desse ensinamento, convida-me a refletir: não vale mais empregar o esforço em realmente “ser” em vez de “aparentar”?

A resposta parece óbvia.

A conclusão a que chego é que meus esforços devem ser empregados diária e ininterruptamente no cultivo real e perseverante de virtudes que me permitam experimentar a paz no mundo interno e a harmonia na convivência com os semelhantes.

Agora sei que não é bom ter uma personalidade forte, até porque compreendo que ela é artificial e frágil. Bom mesmo é ter uma individualidade forte, ou simplesmente uma individualidade, porque é ela que, naturalmente, faz de mim um ser forte.