Você já teve essa sensação? De ter problemas repetidos? De viver situações semelhantes em vários momentos, mesmo que aparentemente diferentes?

Houve um tempo da minha vida em que eu achava que algumas características da minha psicologia, apesar de negativas, eram o que me tornava única no mundo. Havia um pensamento dentro de mim que me dizia que ser uma pessoa impaciente, ou me irritar com facilidade, ou ser um pouco esnobe com algumas pessoas, era o que me diferenciava dos demais e quem se incomodasse com isso devia me aceitar assim ou, então, se afastar. Eu me identificava muito com a tão falada “cultura da aceitação”; você já ouviu falar nela?

Eu pensava que estava tudo bem ter esses desvios na minha personalidade (ter meus defeitos), pois todas as outras pessoas tinham também suas imperfeições, então o melhor que eu poderia fazer por mim era aceitar que eu nasci assim. Já cheguei até a escutar frases do tipo “as imperfeições são o que tornam as pessoas únicas e especiais”.

Sempre gostei muito de esportes e uma das maiores motivações que tenho no treino é a possibilidade de, a cada vez, aprender movimentos novos e corrigir os movimentos em que ainda cometo falhas. Superar alguma dificuldade que eu tenha em algum exercício e poder ver o resultado do meu esforço me causa muita alegria. O fato de prestar atenção nos meus movimentos ao treinar, identificar as falhas e tentar melhorar para, no dia seguinte, observar novamente e me esforçar para tentar melhorar, me traz uma sensação de superação.

Mas o que isso tem a ver com o que falei no início deste artigo? Qual a relação entre os esportes e os meus defeitos?

Olhando para a prática do meu treino e a constante busca por me superar, me perguntei: será que isso seria buscar uma perfeição?

E nas outras áreas da vida: eu me importo em corrigir as minhas falhas? Eu me motivo com as possibilidades de aprender algo novo ou melhorar algo que eu sei que pode me prejudicar?

Já vou conectar todos esses pontos, mas, antes, vou falar sobre outra situação: no trabalho, eu andava ficando irritada com bastante frequência, em determinadas situações. E aí esse estado de irritação começou a me incomodar porque, ao final do dia, eu me sentia muito cansada e até desmotivada. Comecei a perceber que essas situações aconteciam com alguma frequência, mesmo comigo tentando ignorar essa sensação; os dias se passavam e, novamente, eu vivia alguma outra situação, alguma coisa pequena que acontecia e me deixava irritada.

Fui percebendo que essa irritabilidade acontecia não só no trabalho, mas também em outros momentos. As situações mudavam, o ambiente também podia mudar, mas esses pensamentos de irritação sempre apareciam; era como se essas situações se repetissem dentro da minha mente.

Desde muito jovem, também vivia frequentes episódios de impaciência, e ela surgia em muitos momentos. Era impaciente com pessoas da minha família quando demoravam para terminar de contar uma história, ou quando, ao dirigir, entrava um carro mais lento na minha frente… Algumas vezes até cheguei a queimar a boca por não ter paciência de esperar a comida esfriar.

Houve vezes em que eu fazia as coisas com tanta pressa que, depois, a sensação era a de que eu não tinha “vivido” aquilo. Por exemplo, nos momentos que estava com fome e, no jantar em família acabava comendo tão rápido que me esquecia de curtir aquele momento com as pessoas que estavam comigo, essa impaciência me impedia de enxergar coisas boas.

E agora, sim, vou conectar tudo. O que tem a ver o fato de eu querer que os outros me aceitem com o esporte que eu pratico e com a irritabilidade e a impaciência?

Eu comecei a me questionar o porquê de estar vivendo essas situações repetidamente. Será que eu precisava perceber alguma coisa que eu estava ignorando?

Estar atenta me fez perceber a repetitividade desses desvios na minha conduta e comecei a pensar se realmente eu deveria continuar “sendo o que eu sou”, porque, afinal, eu nasci assim, ou se poderia me esforçar para mudar a mim mesma. Na minha mente, observei que existia um pensamento dizendo que eu só era irritada porque os outros me irritavam, ou estava impaciente porque o motorista que estava na minha frente não sabia dirigir direito e, também, muitas vezes esse pensamento conseguia me convencer que essas características eram, na verdade, qualidades minhas!

“Não é que eu sou impaciente, eu sou apenas prática”, ou ainda “não sou eu que se irrita facilmente, eu sou apenas direta”. E foi aí que eu fui percebendo algo valioso: são inúmeras as situações que eu vivo e não consigo perceber que estou agindo sem fazer o nenhum esforço para ser melhor.

Aí, aqui vou colocar algumas perguntas que me moveram a pensar diferente:

– E então quem é que deveria mudar? Eu ou todos os outros?

– Eu tenho mesmo que me aceitar ser imperfeita e não fazer nada para mudar isso?

– Eu tenho mesmo que viver a vida toda sem nem tentar melhorar características que me prejudicam?

– Por que no esporte busco sempre melhorar e superar minhas falhas, e na minha vida não faço isso?

Com os conhecimentos que venho adquirindo com os estudos de Logosofia, estou conseguindo observar essas repetições que vinham acontecendo na minha vida – no trabalho, na família, etc – e fui podendo atribuir as verdadeiras causas a elas.

Essas causas estão todas dentro de mim mesma. Sou eu quem devo buscar dentro de mim, na minha própria vida, as formas mais felizes de trocar essas características negativas da minha psicologia por características positivas.

Nesse meu caminho de superação, pude perceber que, quanto mais eu olho para dentro de mim na busca das ferramentas que podem me auxiliar nessas “correções”, eu vou encontrando outras virtudes que não me dava conta que possuía, e isso me motiva a descobrir quais são todas as minhas possibilidades – alguma semelhança com o esporte aí?

No esporte, quando eu me esforço para aprender e superar as minhas dificuldades, eu consigo motivar outras pessoas. Através do exemplo de observação, paciência e esforço é possível ver que outras pessoas também se motivam a começar a confiar que é possível melhorar e aprender sempre.

Se um exemplo positivo no esporte pode impactar positivamente outras pessoas, compreendo que quando houver um grande número de pessoas realizando dentro de si esse trabalho por ser um ser humano melhor, muitos outros seres também poderão ser beneficiados por esse exemplo de esforço e superação.

Eu nasci sem saber como viver e a grande oportunidade que eu tenho é a minha própria vida, para me conhecer e para identificar o que eu preciso superar. Assim, estou aprendendo que devo sempre buscar agir em direção ao aperfeiçoamento, que irá me trazer sempre um pouco mais de felicidade. Esse trabalho de superação que realizo em mim é o que permitirá que eu não viva mais as mesmas situações na minha vida, os mesmos problemas, sem aprender nada e é, também, o que me permitirá ajudar a transformar o mundo em um lugar melhor. Vamos treinar?

E enquanto uns investigam por um lado, outros o fazem por outro, sendo possível encontrar, muitas vezes onde menos se pensa, algo melhor do que se buscava. É o prêmio ao esforço, ao afã, ao trabalho, à constância, à paciência, e é o prêmio que, outorgado a um, serve para toda a humanidade, porque a toda ela beneficia. ICL pg. 155