Ainda jovem descobri uma dificuldade que me acompanhava desde a infância: não sabia expressar meus sentimentos. Não que os não tivesse, mas alguma trava me impedia manifestá-los.

Recebia muito carinho de minha mãe, sempre afetuosa. Meu pai, por sua vez, era de poucas palavras e, assim como eu, não sabia demonstrar seu sentir em gestos e palavras.

Foi com ele que escolhi fazer meus primeiros ensaios, dar mais vida ao profundo amor que sentia pelos meus pais — necessidade que passei a experimentar profundamente.

Comecei me aproximando, conversando, fazendo perguntas que ele respondia com frases curtas. Percebi que ele expressava seu amor de maneira diferente: com atitudes pelas quais passei a sentir gratidão. Sempre cuidadoso, meu pai me acordava pelas manhãs para eu ir à escola. Quando me levantava, ele já havia comprado pão fresquinho para acompanhar o café, que ele mesmo coava.

Nos meus aniversários, comprava algo especial para o almoço, mas nunca me dava os parabéns, nem sequer um abraço ou um presente… Não falava no assunto! Eu queria tanto ganhar seu abraço, mas não tinha coragem de pedir, nem de tomar a iniciativa. Ficávamos — eu de cá, ele de lá — com as sensibilidades travadas.

O tempo passou. Na juventude, comecei a estudar Logosofia e aprendi muitas coisas que meu pai nem sequer conheceu. Decidi praticá-las em minha vida.

Passei a cultivar pequenas atenções, demostrando mais interesse por sua vida, seu trabalho e sua saúde. Ao mesmo tempo, senti-me grata por seus gestos de bem. Entendi, aos poucos, que o amor não se limita às carícias e explicitações, mas sim em anelar o bem a todos, algo que meu pai sempre prodigou. Recordei algumas de suas atitudes em minha infância: contar histórias ou cantar “tico-tico no fubá” para eu dormir. Identifiquei ali o calor de seu afeto. Foi com meu pai que aprendi a amar a natureza. Movida pela ternura dessas lembranças, passei a expressar gratidão por meio de cartões escritos com esforço e gosto.

Não tinha pressa em alcançar os resultados. Trabalhei de forma consciente e pacientemente, atenta ao meu sentir. Então, chegou o meu aniversário. Naquele dia, fui surpreendida por um botão de rosa sobre minha cama ao lado de um cartão que dizia:

Entre todos que te gostam, o que te gosta mais.

Em vez da assinatura, a inicial de seu nome.

Aquele gesto de ternura me tocou profundamente. Foi o primeiro de muitos outros que se seguiram de ambas as partes, fortalecendo nosso vínculo. Valorizei o esforço enorme que ele deve ter feito para vencer as travas que afetavam sua sensibilidade.

Pouco tempo depois, ele adoeceu. Durante os quatro anos de sua enfermidade, dediquei-lhe todo o meu carinho, atenção e cuidados.

Tenho certeza de que esse exercício que fizemos juntos contribuiu para superar algumas de nossas limitações como seres humanos e que ele partiu, dessa etapa da existência, tendo realizado uma mudança nesse aspecto.